Um olhar para o solo, mais uma vez
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sexta-feira, 14 de julho de 2017
Victor Lopes<br>Reportagem Local
Bastou o impacto forte das chuvas do fenômeno El Niño sobre as lavouras paranaenses entre o final de 2015 e o ano passado para um assunto que andava esquecido voltar a martelar a cabeça do produtor, a conservação de solo. As precipitações com médias duas vezes superior ao do histórico dos últimos 20 anos mostrou a força da erosão em muitas propriedades do Estado e os prejuízos financeiros, estruturais e ambientais foram enormes. Um alerta foi ligado: as boas práticas conservacionistas ficaram escanteadas ao longo dos últimos anos.
É bem verdade que o Estado já esteve na vanguarda das ações de conservação de solo, lá na década de 1980. O tempo foi passando e o produtor deixou algumas ações importantes de lado, como o próprio terraceamento, rotação de culturas com plantas de cobertura e curvas de nível. Os números estimados pela Embrapa Solos são alarmantes. As perdas no País chegam a US$ 5 bilhões por ano pelo processo erosivo em áreas cultivadas.
Entidades públicas e privadas do agronegócio ligaram o sinal de alerta no ano passado e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), juntamente com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) elaboraram um pré-projeto, que há quase um ano se tornou o Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná (Prosolo). O programa tem diversas frentes, desde ações em eventos pelo Estado para sensibilizar produtores sobre o tema, investimentos em pesquisa aplicada, capacitação de técnicos, e, principalmente, a adesão dos produtores (pessoa física ou jurídica) ao programa, elaborando projetos de conservação de solo e água para cada propriedade.
Hoje, se o produtor tem uma situação de risco em sua área, ele é autuado e a legislação estadual dá um prazo de 30 dias para apresentar um projeto e dar sequência às adequações. Caso isso não ocorra, ele é multado posteriormente. O secretário executivo do Prosolo, Werner Hermann Mayer Junior, explica que caso o agricultor se inscreva no programa até o próximo dia 29 de agosto, ele tem um ano para apresentar o projeto. A expectativa é que 10% dos produtores do Estado se cadastrem no Prosolo até o prazo final.
Para facilitar esse trâmite dos projetos, a expectativa é capacitar até o ano que vem 20 mil técnicos. "Devido à falta de demanda do produtor, muitos profissionais acabaram deixando essa área de agronomia e hoje pouca gente faz projetos relacionadas à conservação de solos. Temos também um investimento de R$ 12 milhões em pesquisa aplicada lançado há cerca de dois meses pela Fundação Araucária, em que identificamos assuntos importantes ligados à conservação de solos."
FATORES
Para Werner, são muito pontos que colocaram os produtores paranaenses novamente nessa situação complicada. O plantio direto feito sem qualidade foi um dos fatores. "Criou-se a ideia de que o plantio direto resolvia todos os problemas de solo, mas ele vem perdendo qualidade, com pouca cobertura de solo, sem rotação de cultura. Ele é uma ferramenta poderosa no controle do processo erosivo, desde que seja bem feito em conjunto com outras estratégias, como o uso de cordão vegetado e terraços."
Outro problema grave e comum é a utilização de máquinas de maior porte sem necessidade. Como elas têm seu rendimento comprometido pela utilização dos terraços, muitas vezes eles acabam sendo retirados. "É preciso ter cuidado com a compactação do solo. O produtor nos últimos anos aumentou muito o tamanho das máquinas, às vezes sem necessidade e retira os terraços para um maior espaço de manobra."
Agora, a expectativa é que o Prosolo ultrapasse as barreiras de apenas um mandato político e siga ao longo da próxima década. "Como temos envolvimento da iniciativa privada, isso pode dar uma sobrevida ao projeto. Temos esse respaldo científico e aplicaremos isso em campo, o que demanda tempo, além de continuar o processo de sensibilização do setor, capacitação, o que será bem eficiente para um maior controle de erosão no Paraná."
A terra é parte fundamental na empresa rural
"A propriedade rural é nossa empresa e o solo é parte importante dela." É dessa forma que o produtor de grãos em Londrina, Wilberto Léo Janz, resume a importância do manejo do solo em todos os aspectos dentro da sua área de 300 hectares. Ele não poupa esforços para mantê-lo equilibrado quimicamente e livre de erosões.
Mesmo assim, há cerca de seis anos ele acabou passando por um problema devido a uma falta de atenção não dele, mas na propriedade vizinha. Como o produtor vizinho não seguia à risca esses preceitos, o problema de erosão ficou sério e, quando chovia, a água descia forte na área de Janz e na de outros produtores rurais próximos. "A saída foi eu arrendar a área e fazer todo o manejo necessário."
Foram 18 hectares que passaram por conserto de valetas, curvas de nível com auxílio de um técnico da cooperativa e calagem. Ele não se lembra exatamente o valor gasto, mas só a contratação de uma máquina para os trabalhos custou em torno de R$ 160 a hora. "Têm muitos agricultores que sabem da importância de cuidar do solo, mas outros, acredito, não fazem até por falta de recursos. Com esse sobe e desce dos preços das commodities, a pessoa fica descapitalizada e esse é um investimento que não se vê retorno no momento, mas é necessário."
O olhar de Wilberto, claro, não está ligado apenas aos problemas de erosão, mas também extrair do solo tudo que ele oferece. "Trabalho com plantio direto e agricultura de precisão. Hoje se não utilizarmos todos os recursos disponíveis, ficamos fora do mercado. Temos que não apenas vencer a erosão, mas também buscar as correções de solo necessárias para aumentar a produtividade. Uma vez que o solo vai embora para o rio, ele não volta. Se não tivesse arrendado e consertado essa área, teria gerado transtornos enormes."