Depois de ver o lucro dos bancos, esta semana - inclusive o baita lucro do Banco do Brasil - não dá para prosear com alegria. Nem um dedo, nem um porre de prosa. Mesmo que a gente faça aquilo que aquela desbocada sugeriu: ‘‘relaxar e gozar’’.
Não dá para ser feliz quando você vê os bancos lucrando horrores enquanto produtores vendem o sítio para pagar dívidas. Pior ainda é quando você vê um banco oficial gastando um monte em propaganda. Precisa?
Pensando bem, é melhor falar sobre pescaria. Mas isso também dá um certo desgosto porque está tudo poluído. Ou falar de futebol. Então só se for do futebol antigo; da Copa de 70: Pelé, Jairzinho, Belini...
Não dá para gazar, como quer a dona Marta Suplício, mas dá para debochar deles (dos jogadores não, dos políticos). Tio Herculano faria diferente. Depois de devorar um garrafão de vinho Cegonha (quem se lembra do Vinho Cegonha?), ele preferia debochar de vez. Sentava na varanda, enchia o peito e cantava a Mula Preta. Mas isso também era uma tragédia porque ele tinha uma voz aguda, um misto de sotaque italiano e meio sulista. Horrivel, coitado.
Engraçado: não é privilégio ter um tio que cantava (entoava, vai) a Mula Preta. Sérgio Bermudes, no seu livro de crônicas ‘‘As Uvas da Raiva’’ faz referência ao avô Dedé. ‘‘Punha-me no colo, ligava o rádio e dizia que, se tivéssemos sorte, ia tocar a Mula Preta’’. Sérgio Bermudes só se lembra do primeiro verso da letra.
‘‘Eu tenho uma mula preta com sete palmos de altura’’, e a sanfona rangia.
Eu também lembro nitidamente dos sete ‘‘parmos’’ de altura da mulinha saltitante. Mas não era o rádio (ABC, Phillps ou Pilotto ou o transistorizado Hitashi, portátil) que tocava, na voz de Tonico e Tinoco. Quem acompanhava o tio era a acordiona da prima Regina. Pobre Regina! Adiantou estudar música na cidade?
Pois é, naquele tempo, os adultos da casa escutavam o repórter Esso, para ouvir o preço do café. Ninguém passava raiva com os lucros dos bancos. Não era divulgado. Não havia televisão. Não tinha Renan Calheiros, graças a Deus. Tinha Getúlio Vargas, que era bom. O verdadeiro pai dos pobres...e dos trabalhadores. Aquele sim. Mas eram outros tempos. Falar dessas coisas não adianta mais, como admite o leitor Antônio C. da Costa, de Jardim Alegre, que ainda se incomoda com a realidade ‘‘destePaís’’. Duro é quando ninguém reage. Nesta altura é melhor dar umas voltas na Mula Preta.
‘‘Eu tenho uma mula preta, com sete palmo de altuuuuura!.