O desenvolvimento de alimentos geneticamente modificados merece um capítulo à parte. A pesquisa encomendada pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) ao Ibope Conecta aponta que 80% dos entrevistados sabem o que são transgênicos, 59% estão abertos a experimentar algum alimento do tipo e somente 33% temem prejuízos à saúde. Ao mesmo tempo, apenas 17% das pessoas acreditam que há DNA no que colocam no prato e 73% se mostram preocupados em consumir algo com DNA.

A diretora-executiva do CIB, Adriana Brondani, considera que é preciso ter uma percepção positiva dos dados. "Quando falamos de pessoas que fazem ligação com algum tipo de alergia, é um percentual bastante baixo, três a cada dez. Considero que hoje há uma mudança importante de cenário e isso é um trabalho da mídia, de esclarecer informações, porque muitos estão abertos a consumir, o que significa que o preconceito diminuiu bastante."

Por outro lado, ela diz que a pesquisa mostra desconforto e confusão dos entrevistados entre DNA e transgênico. "A maior parte das pessoas reconhece a presença do DNA no animal de estimação, nas plantas que têm em casa, mas para enxergar esse DNA no prato há uma distância bastante grande", conta.

O chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, Alexandre Cattelan, cita outro motivo. "Quando se lê um rótulo de qualquer alimento industrializado, há tantos por cento de gordura, de açúcar, de proteínas, de sais minerais, mas nunca aparece DNA", diz. "A pessoa não para para pensar que todas as células de seres vivos têm DNA e, quando se ingere um ser vivo animal ou vegetal, se ingere DNA. É uma questão de esclarecimento."

Visão que leva ao preconceito, na visão do pesquisador. "Muitas pessoas não se dão conta de que nosso aparelho digestivo degrada a maioria dos alimentos, que são transformados depois em aminoácidos, sais minerais e assim por diante no nosso trato digestivo. E não é porque se ingere esse DNA que ele vá se agregar às células dela de alguma forma", completa Cattelan.

Engenheiro agrônomo e gestor de inovação no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Marcos Valentin Martins considera que também há um viés ideológico no debate sobre transgênicos. "O Iapar não entra nessa discussão, mas trabalha para buscar soluções na ciência e tecnologia para produtores e para o abastecimento do consumidor", diz.

Martins vê preocupação de produtores em relação ao fim das sementes tradicionais. "Existem produtores que entendem que há alta produtividade com transgênicas, mas outros consideram que o aumento de custo nem sempre vale a pena", completa.

Quanto à saúde, porém, Cattelan rejeita eventuais riscos e diz que o transgênico passa por tantos testes que nem os alimentos convencionais são sujeitos. "São testes agronômicos, ambientais, de saúde humana, saúde animal, de toxicidade e por aí vai", conta. "E não é apenas no Brasil, que produz a soja transgênica, por exemplo. Precisa ser liberada em uns 30 países do mundo, que são onde se consome essa soja", encerra. (F.G.)