Grande desafio também está em elevar volume de produtividade de forma economicamente viável, que o produtor consiga ganhar por isso
Grande desafio também está em elevar volume de produtividade de forma economicamente viável, que o produtor consiga ganhar por isso | Foto: Marcos Zanutto/12-01-2017



Os sojicultores brasileiros e paranaenses, sem dúvida, estão entre os mais eficientes do mundo. Os níveis de produtividade alcançados – comparado a países concorrentes como Argentina e Estados Unidos – mostram que estamos sempre entre os primeiros em qualquer ranking relacionado a soja, uma commodity que transformou o agronegócio nacional nas últimas décadas. Por outro lado, uma constatação não pode ser esquecida: o potencial da oleaginosa ainda está longe de ser alcançado e, nos últimos dez anos, a produtividade não foi a protagonista quando se trata dos volumes de produção alcançados no País.

Um estudo divulgado este mês pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) exemplifica bem isso. Segundo o levantamento, a soja levou 25 anos (da safra 1976/77 a 2000/01) para elevar o patamar médio de produtividade no País de 1,5 mil kg/ha para 2,5 mil kg/ha, mas nos últimos 15 anos (2001/02 a 2015/16) ultrapassou os 3 mil kg/ha apenas uma vez, na safra 2010/11. Ou seja, na concepção da Conab, nas últimas duas décadas a "expansão extraordinária da produção brasileira é explicada pela expansão da área plantada".

O salto em área é, de fato, surpreendente. Se em 1976/77 se plantava 6,9 milhões de ha da oleaginosa. Na safra 15/16, foram 33,2 milhões de ha, um incremento de 378,5%. No mesmo período, de 40 anos, a produtividade média saltou de 1.748 kg/ha para 2.870 kg/ha, alta de 64,2%. Segundo o estudo, "nesse contexto, há um forte indício de que a produtividade média da soja atingiu um nível de equilíbrio produtivo, em que o rendimento médio é otimizado, dado o grau de desempenho e disponibilidade dos principais fatores de produção e dado o nível de tecnologia acessível".

O gerente de Levantamento e Avaliação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Cleverton Santana, salienta que a produtividade não está estagnada, mas a área tem sido fator mais preponderante para a produção. O Brasil incorporou nos últimos sete anos 11,5 milhões de ha para o cultivo de soja, enquanto na Argentina foram 3,6 milhões de ha e, Estados Unidos, 2,9 milhões de ha. "A expansão aconteceu na região do Cerrado. O produtor aposta em fazer a conversão de pastagens degradadas, mas como o custo de produção para isso é mais elevado, muitos produtores acabam usando um pacote menor de tecnologia e, com isso, a produtividade fica menor, já que o solo é mais pobre e ácido".

FATORES
Além do "fator Cerrado", que influencia nos níveis de produtividade, o estudo cita que o resultado final do rendimento ainda tem muitas variáveis influenciadoras que não permitem que o País rompa com a barreira média dos 3 mil kg/ha com facilidade. "Isso inclui uso de sementes de baixa qualidade, cultivares menos adaptadas à região, inadequada população de plantas, semeadura antecipada, solos arenosos, sistema de plantio direto com anomalias de condução, deficiência de controle de plantas daninhas, doenças e insetos-praga, desequilíbrio nutricional, baixo teor de matéria orgânica no solo, dessecação anterior à maturação fisiológica para apressar a colheita, ausência de rotação de culturas, plantio em áreas marginais, dentre outros".

Mesmo com tantas adversidades, o pesquisador acredita que o Brasil está no caminho certo. Para o superintendente de informações do agronegócio da Conab, Aroldo de Oliveira Neto, a estratégia está em fortalecer o manejo agrícola – como é o caso da agricultura de precisão – e a expansão de algumas áreas, principalmente na região Norte, como em "Matopiba" (sigla que representa os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). "Não podemos esquecer que o grande desafio também está em atingir grandes níveis de produtividade de forma economicamente viável. Não adianta produzir 100 sacas por hectare e o produtor não ganhar por isso".