A matemática não tem favorecido os produtores das principais commodities e proteínas do Estado - atividades que impulsionam o agronegócio e a economia paranaense. Os números são, de fato, cruéis, e apontam retração significativa no último ano nas cotações dos oito principais produtos da agropecuária, que representam simplesmente mais de 60% do Valor Bruto de Produção (VBP) do segmento.

A justificativa para a queda acentuada para os setores avícola, suínos, boi, leite, além de soja, milho, trigo e feijão é uma só: mercado. O que está em jogo neste momento é que as altas produtividades aliadas à uma demanda menor de consumo jogaram os preços, inevitavelmente, para baixo. No caso dos grãos, os estoques estão em geral elevados em nível mundial, associado à boa safra aqui e nos EUA. No caso das proteínas, a economia arrefecida segura o consumo, e não é de hoje.

Na soja o valor comercializado em outubro de 2017 foi em média de R$ 60,32, frente a R$ 66,08 do ano passado, uma queda de 8,7%. No milho a retração foi ainda mais significativa: de R$ 32,11 para R$ 20,91 (-34,8%). Seguem ainda o trigo com queda de 8,6% e feijão preto e de cor, com redução de 47,4% e 63,2%, respectivamente. No caso das proteínas, o boi gordo teve queda 6,9%, tendência que seguiu com o frango vivo (-13,7%), suínos (-3,5%) e o leite pago ao produtor (-19,4%). Os números são do Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento). Confira a movimentação dos preços nos gráficos.

Imagem ilustrativa da imagem Queda em conjunto



O economista do Deral, Marcelo Garrido, não titubeia em analisar o momento que o agronegócio paraense vive neste final de ano: excesso de oferta. Se de um lado a boa safra passada animou os produtores com excelentes números de produtividade, por outro, é momento de lidar com esse tipo de situação, que pressiona os valores para baixo. "A safra 2016/17 abasteceu bem o mercado. Isso mantém os preços em níveis menores comparados a anos anteriores. É reflexo dessa grande produção."

Garrido lembra a força da primeira safra do ano passado, que associada aos bons níveis mundiais, influenciaram na Bolsa Chicago, por exemplo. "Acredito que seguiremos essa tendência de bons números de produção agora na 17/18, sem repetir o que aconteceu no ano passado, que tivemos um ano excelente. Tivemos um probleminha de seca no início da safra de soja e milho, mas depois regularizou agora em outubro e novembro. Ainda está difícil falar em perda de produtividade."

De modo geral, quando se trata dos grãos, alguns fatores podem dar um fôlego para as atividades daqui para frente, mas nada que o produtor possa influenciar, como por exemplo mudanças climáticas, fator câmbio e, no caso mais específico do País, o ano eleitoral, que não deve ser fácil e impactará na economia.

Apesar de um momento não muito positivo, o economista do Deral acredita que o produtor paranaense – seja de grãos ou carnes – já aprendeu a lidar com essa montanha-russa do mercado. "Ele está acostumado e o que precisa fazer é ficar atento. A recomendação é escalonar essa venda, prestar atenção nas variáveis porque qualquer informação muda tudo muito rápido. Qualquer mudança nos EUA, na Argentina, na política, já reflete nos preços. O produtor está preparado da porteira para dentro, mas acredito que também da porteira para fora."

Apesar da queda de preço, mercado de milho está mais firme

Apesar da retração significativa no preço do milho estadual nos últimos 12 meses, os especialistas acreditam que os preços para a cultura estão mais firmes agora após alguns percalços. Um ponto positivo no momento é uma exportação mais volumosa neste segundo semestre, o que tem segurado os valores de comercialização em bons níveis. É claro, nada próximo ao que aconteceu no ano passado.

O consultor de mercado da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro de Lima Filho, relata que esta "demanda de exportação somada a uma menor expectativa de produção para a safra 2017/18 são os fatores principais para a sustentação dos preços". No Paraná, o Deral soltou apenas os valores ligados ao milho primeira safra (menos representativa), com uma queda de área de 513,6 mil hectares (ha) para 338,4 mil ha, diminuição de 34%. Isso significa uma produção saindo da casa das 4,9 milhões de toneladas para 3,06 milhões (-38%). Uma tendência que deve seguir com o milho safrinha.

Ribeiro relata ainda que neste momento o milho norte-americano - já colhido em 90% - e com uma expectativa de recorde de 370,3 milhões de toneladas, favorecerá o embarque deles e, claro, arrefecendo as exportações por aqui. "Isso diminui um pouco a força de valorização, mas não indica que os preços devem cair. Teremos algo mais sustentado até janeiro, meados de fevereiro, quando começa a colheita da safra de verão."

Mesmo assim, o que se percebe aqui no Brasil é que muitos produtores ainda estão segurando o produto nos armazéns. Consultorias apontam que quando a safra de verão iniciar, haverá 20 milhões de toneladas estocados, em média quatro vezes acima do normal. "A Conab fala em 19,2 milhões de toneladas a, para a temporada 2017/18, 24 milhões de toneladas. Só para se ter uma ideia, em 2015/16, eram 6,99 milhões de toneladas. Os estoques devem limitar as altas de preço, mas o mercado está firme."

SOJA: CLIMA E DÓLAR BALIZAM MERCADO
A safra de soja começou com uma preocupação em relação ao clima, atrasos de chuva, o que alertaram o mercado. No final de outubro somou-se uma alta do dólar, saindo da casa dos R$ 3,10 para os R$ 3,40, o que sustentou os preços por tempo da oleaginosa. "Depois que choveu e com a queda do dólar, os preços caíram no mercado interno. Com os EUA colhendo e o Brasil plantando, é o que chamamos de 'mercado de clima', e, junto com o dólar, são os dois fatores que vão balizar o mercado."

Para Rafael, os resultados para o produtor são decrescentes comparados a anos anteriores, mas ainda assim positivos. "Teve gente que já travou o preço (no mercado futuro) e conseguiu melhorar os resultados lá na frente. Neste momento, o ambiente está meio frouxo para a soja, mas acredito que possa dar uma reagida até meados de janeiro, quando começa a colheita da soja precoce."