Plantas do próprio talhão são cortadas e espalhadas pelos espaços de cultivo oferecendo cobertura de solo e nutrientes
Plantas do próprio talhão são cortadas e espalhadas pelos espaços de cultivo oferecendo cobertura de solo e nutrientes



Números da propriedade modelo de agricultura sintrópica localizada em Brasília apontam para um volume incrível de alimentos produzidos por meio do sistema: uma capacidade de 80 mil quilos de alimentos por hectare por ano, número realmente impressionante. Resultados que sem dúvida mostram o potencial da tecnologia para pequenas áreas, como é o caso da agricultura familiar no Paraná.

Felipe Machado de Freitas é engenheiro agrônomo de um projeto de certificação de orgânicos na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a partir deste ano irá trabalhar com agricultura sintrópica no condomínio de chácaras na Fazenda Itaúna, no final da Estrada do Limoeiro.

Freitas explica que o sistema criado por Ernst Götsch traz uma mudança de paradigmas - um rompimento com a agricultura convencional - que os pequenos produtores precisam absorver na prática. "A primeira dificuldade para apostar na agricultura sintrópica é a necessidade de passar por uma conversão de mentalidade. O produtor está acostumado a fazer agricultura de uma mesma forma por gerações. Quando propomos, por exemplo, a ideia de plantar árvores em meio a produção, ele fica resistente e acha que não vai dar certo. Se posteriormente há uma adesão, ele vê os alimentos saudáveis, bonitos, isso acaba o convencendo".

Outro ponto que facilita demais a aposta dos pequenos agricultores – principalmente de orgânicos – é a facilidade de controle de pragas e doenças, solo mais rico e, claro, uma ocupação da área de forma mais efetiva. A dinâmica é simples: o agricultor familiar precisa utilizar seu espaço de forma muito inteligente, o que é possível com agricultura sintrópica. "O princípio da sintropia é produzir em vários estratos. Da mesma forma que há uma planta rasteira, tem uma arbórea e outra maior ainda. A ocupação do solo é muito mais eficiente e a produção por unidade de área aumenta. Produzir em diversos estrados, sem dúvida, incrementa a produtividade".

No que diz respeito aos gargalos para a implementação desse sistema, o agrônomo também bate na tecla da falta de mão de obra no campo e também de algumas mudanças que serão necessárias no dia a dia de manejo, mas que o agricultor acaba se acostumando. "Utiliza-se muito menos enxada e mais o facão e a motosserra para conseguir a cobertura de solo. Mas tudo fica mais fácil para adesão quando começa-se a enxergar a produtividade do sistema". (V.L.)