A fruta paranaense pode atingir um alto valor agregado e conquistar consumidores pelo mundo
A fruta paranaense pode atingir um alto valor agregado e conquistar consumidores pelo mundo | Foto: Fotos: Hélio Inumaru/Divulgação



No contexto da fruticultura paranaense, os números ligados à cultura da goiaba, num primeiro momento, nada impressionam. São pouco mais de 700 hectares, uma produção anual que gira em torno de 17,7 mil toneladas e um Valor Bruto de Produção (VBP) módico de R$ 38 milhões, o que corresponde a apenas 2,7% do faturamento com frutas no Estado.

Mas este cenário se transforma quando o olhar não está apenas nos números, mas na qualidade do que se produz. Quando se coloca uma lupa diretamente no município de Carlópolis, na região do Norte Pioneiro, o que se vê é uma produção de goiabas com padrão diferenciado, grandes, vermelhas, crocantes, saborosas e com bom potencial de mercado a se explorar. Não se trata apenas de uma "commodity", mas sim uma fruta que pode atingir um alto valor agregado e conquistar consumidores pelo mundo. Não é exagero.

Um trabalho sólido que acontece há alguns anos já começa a gerar resultados, inclusive com expectativa de exportação de alguns produtores nos próximos anos, com a certificação chamada Global GAP (Good Agricultural Practices). A norma internacional aborda principalmente os pontos de rastreabilidade, técnicas de produção (uso controlado de defensivos químicos), preservação do meio ambiente e recursos naturais, aspectos higiênicos (não-contaminação química, física e biológica) e sociais (ambiente de trabalho adequado).

Como acontece com o café da região, o primeiro passo já foi dado com o registro da Indicação Geográfica (IG) que, segundo definição do Mapa, "é conferido a produtos que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos seus similares disponíveis no mercado. São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e know-how". Tudo que essa goiaba tem.

Rodrigo Viana, presidente da ACP: "Nossa goiaba é reconhecida porque fazemos esse trabalho de ensacar no pé uma a uma, assim ela chega com uma qualidade excelente na mesa do consumidor"
Rodrigo Viana, presidente da ACP: "Nossa goiaba é reconhecida porque fazemos esse trabalho de ensacar no pé uma a uma, assim ela chega com uma qualidade excelente na mesa do consumidor"



O consultor do Sebrae/PR, Odemir Capello, relata que o trabalho começou há quatro anos, quando a entidade fez um levantamento na região e percebeu, então, uma densidade de produtores, de frutas produzidas e qualidade. São cerca de 200 produtores, 75 deles vinculados via associativismo numa área de 390 hectares (ha) de pomares plantados, mais da metade do Estado. "Trabalho com projetos de alimentos no Norte Pioneiro há pelo menos 10 anos. Em todos eles, sempre colocamos um padrão de produto com o objetivo de entrar no mercado internacional. Se isso porventura não acontecer, com esses parâmetros jogamos o nível (de qualidade da produção) para cima", explica ele.

Quando se salta do patamar da goiaba comum para a diferenciada, Capello relata que o processo é completamente diferente. Sem dúvida, uma das técnicas de manejo de maior destaque na região é o ensacamento de cada uma das frutas, protegendo contra intempéries climáticas, ataques de insetos e diminuindo a utilização de defensivos, deixando um produto bem mais sustentável, tanto ao produtor como para o meio ambiente. "Mas o que muda principalmente é o comportamento do produtor, porque serão necessários transformações na estrutura da propriedade e nos canais de distribuição. No processo de commodity, você pega dez frutas de tamanhos diferentes e vende. No mercado diferenciado, fazemos a separação por tamanho, cores, proteção do produtor e dos empregados (EPIs), muda muita coisa."

Para isso, o foco não está apenas em conquistar certificações para atender o mercado internacional – algo que está em processo em algumas propriedades – mas também trabalhar a questão estratégica de galgar quais mercados há potencial, além da rastreabilidade e o associativismo entre os produtores. "Sozinho, o produtor não consegue chegar nesse nível. Ele não tem condições financeiras, nem de articulação (com o mercado) e nem produto suficiente para atingir esses compradores". Aí a importância de caminharem juntos.

Associativismo ajuda a expandir mercado
Quando a Cooperativa Agrícola de Cotia encerrou as atividades no Paraná, muitos produtores do Estado já tinham claro em mente a importância de estarem juntos em algum tipo de formato, seja o cooperativismo ou o associativismo, por exemplo. Assim nasceu, em 1995, a Associação dos Olericultores e Fruticultores de Carlópolis (ACP), que hoje concentra 75 produtores e tem como o carro-chefe a produção e comercialização da goiaba chinesa de polpa vermelha, mas também outros produtos como lichia, abacate, carambola, figo da índia, maracujá azedo e pimenta.

Quando se trata da goiaba, a associação faz aproximadamente quatro colheitas semanais, o que totaliza dez toneladas - ou 40 toneladas por mês. As outras frutas somam em média 2,5 toneladas colhidas mensalmente.

O presidente da ACP, Rodrigo da Silva Viana, é produtor de goiaba numa área de 15 hectares, com seis pessoas trabalhando, somando familiares e dois funcionários. A colheita da família gira em torno de sete toneladas mensais. "Nossa goiaba é reconhecida porque fazemos esse trabalho de ensacar no pé uma a uma, assim ela chega com uma qualidade excelente na mesa do consumidor. Percebemos que a procura por ela aumentou bastante nos últimos oito anos, o consumidor agora procura alimentos saudáveis, frutas mais frescas, com alta qualidade e um preço acessível."

Uma curiosidade é que quando a fruta entrou no município, na década de 1960, foi através de um japonês chamado Iwao Iamamoto, que viajou para fora do País e desenvolveu uma goiaba graúda, crocante, mas de polpa branca. "Com o passar do tempo ela deixou o mercado porque o pessoal preferia a vermelha. Hoje temos uma fruta crocante, de bom tamanho e para isso fazemos uma seleção no pé. Tiramos aquelas que não estão bem formadas ou que o inseto já passou, para nutrir melhor as que ficam e assim agregar bom preço a elas", explica Viana.

Hoje, os principais mercados internos que buscam a goiaba de Carlópolis são o próprio Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. "A Indicação Geográfica (IG) veio para agregar ainda mais valor ao nosso produto." Para os próximos anos, o foco da ACP é montar uma cooperativa e, claro, buscar a certificação Global Gap para o mercado internacional. "Dessa forma não sobrecarregaremos o mercado interno com a nossa produção e assim não atrapalhamos os outros produtores, inclusive os que não fazem parte do nosso grupo. " (V.L.)

Produto teve aceitação excelente no Pavilhão Brasil da Fruit Attraction 2017, em Madri, em outubro
Produto teve aceitação excelente no Pavilhão Brasil da Fruit Attraction 2017, em Madri, em outubro | Foto: Odemir Capello/Divulgação



'Chegou a hora de crescer e ganhar dinheiro'
Falta pouco para que as goiabas de Carlópolis ganhem o mundo e, aos poucos, a fruta já começa a chamar a atenção em feiras internacionais. A primeira exposição delas aconteceu entre os dias 18 e 20 de outubro, quando o produto esteve exposto no Pavilhão Brasil da Fruit Attraction 2017, realizada em Madri, na Espanha. Participaram do evento o presidente da Associação dos Olericultores e Fruticultores de Carlópolis (APC), Rodrigo da Silva Viana, e o consultor do Sebrae/PR Odemir Capello.

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o evento reuniu mais de 1,5 mil empresas expositoras e 60 mil profissionais de 110 países em um dos eventos de negócios internacionais mais efetivos da indústria hortifrutícola. A Missão Comercial à Espanha teve o apoio do Mapa, Ministério das Relações Exteriores (MRE), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

O consultor do Sebrae/PR Odemir Capello afirmou que a goiaba é uma fruta pouco conhecida na Europa e, por isso, vista como exótica. Segundo ele, o produto teve uma receptividade excelente e a participação na feira superou as expectativas. Foram contatados pelo menos 35 compradores. Brasileiros que moram há muitos anos na Espanha quiseram provar a fruta, que não é facilmente encontrada no exterior, e remete ao sabor de infância. Chefes de cozinha também ficaram interessados no produto, já que são poucos os países que produzem a goiaba chinesa de polpa vermelha. "Se a fruta já tivesse a condição (com a certificação Global Gap), teríamos fechado contratos de venda nesta viagem", salienta Capello.

Para o consultor, este é o momento que os produtores precisam tomar uma decisão pela certificação e transformar o negócio. "Agora chegou a hora de crescer e ganhar dinheiro. Muitos já estão preparados para certificar. Eles nunca imaginaram que poderiam chegar numa das feiras mais importantes do mundo."

Agora, o presidente da APC, Rodrigo da Silva Viana, relata que a associação está se programando para uma próxima feira, que acontece em Berlim, na Alemanha, no mês de fevereiro. "Eu nunca tinha participado de uma feira assim, é algo espetacular ver o interesse do pessoal em relação ao nosso produto. Quem viu gostou da variedade, o mercado é positivo e muito animador."

"Estamos buscando a certificação Global Gap, fundamental para a exportação. Em novembro, será feita a auditoria do packing house da associação", adiantou Viana. A intenção da APC é conquistar a certificação coletiva do barracão para o armazenamento das frutas e para dez propriedades.

Segundo o Mapa, no primeiro semestre de 2017, houve um aumento de 18% no valor e 8,5% no volume exportado de frutas brasileiras comparado com o mesmo período do ano passado. Quem encabeça a lista é a manga, com um valor de US$ 45,6 milhões (alta de 19,2%) e 34 mil toneladas, crescimento no volume de 32,4%. Seguem na sequência da lista limões e lima, melões e maçãs. As goiabas ocupam apenas a 19ª posição, com um volume de 95,5 toneladas e US$ 218,5 mil dólares de arrecadação entre janeiro e junho.