Trabalhar com o bicho-da-seda exige um trabalho contínuo, que demanda o dia todo do produtor
Trabalhar com o bicho-da-seda exige um trabalho contínuo, que demanda o dia todo do produtor | Foto: Ricardo Chicarelli



Uma das 15 unidades de referência implementadas pelo Instituto Emater e Iapar, a propriedade de Devair Aparecido Palombo, em Tapira (Noroeste), é a prova que o bicho-da-seda é uma ferramenta bem interessante para a agricultura familiar. Há 25 anos na atividade, Devair trabalhou muito tempo como "porcenteiro" até que finalmente conseguiu adquirir um alqueire de terra e começou a trabalhar na atividade com uma remuneração bem interessante para sua família de quatro pessoas, sendo a esposa e duas filhas adolescentes. "O que faço hoje com 19 mil metros quadrados (0,8 alqueire) de amora plantada, tem gente que não faz em dez alqueires", salienta ele.

Os números provam por si só. Na safra do ano passado – que para o bicho-da-seda acontece da segunda quinzena de agosto à segunda quinzena de maio – ele conseguiu entregar à indústria dez criadas e um total de 3.329 quilos. O valor recebido em média no período foi de R$ 20,18 o quilo. "Este ano o clima está meio frio, umas ventanias estragaram um pouco a amora, mas está bom. Acho que vou conseguir objetivo parecido com o ano passado. Até agora entreguei duas criadas (para a Bratac) com valor de R$ 21 o quilo".

Tais valores importantes recebido por Palombo estão diretamente ligados à qualidade do casulo que ele entrega, em bons patamares técnicos. Ele relata que o manejo das amoreiras precisa ser bem preciso, com adubação e correção de solo adequadas. "Aumenta os custos, mas o retorno também chega. O segundo ponto é que o bicho-da-seda é um trabalho contínuo, que demanda o dia todo do produtor."

Quando o bicho chega na chamada terceira idade e está dentro do barracão, Devair começa as 6 horas da manhã e vai até 21 horas, mas não de forma continuada. Na quinta idade, a demanda do trabalho aumenta: ele levanta às quatro da manhã e vai até meia-noite em ritmo acelerado. "Quem trabalhou com bicho-da-seda há 20 anos e continua hoje a verdade é que nem parece que está trabalhando devido às facilidades que se têm agora com a mecanização. Se a pessoa tem uma dedicação, eu acredito que não há nada melhor", salienta ele, referindo-se às pequenas propriedades.

Por fim, o sericicultor de 47 anos responde de forma muito sincera se valeu a pena entrar na atividade. "Pela minha idade e escolaridade, só tenho o primeiro grau completo, tenho um salário muito bom aqui na propriedade que sei que não conseguiria esse valor em nenhum outro lugar".

RENDA

Estudos realizados nas unidades de referências apontam que para cobrir o custo operacional médio são necessários produzir cerca de 357 quilos de casulo de primeira por hectare/ano. A partir disso, a renda gerada já passa a ser apropriada pelo agricultor. A produtividade média no Paraná atualmente é de 622 quilos por hectare/ano, ainda inferior à meta de 943 quilos por hectare/ano, que seria o suficiente para proporcionar ao agricultor cobrir o custo de produção e obter uma renda de um salário mínimo por mês. (V.L.)