Tiago Pellini é diretor técnico de pesquisa do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e a pedido da FOLHA fez uma análise da nova edição dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável por Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná 2017, divulgado pelo Ipardes, mais especificamente quando se trata da utilização de agrotóxicos no Estado.

Para Pellini, tais indicadores referentes a 2015 não apontam que o Estado caminha para uma agricultura pior, menos sustentável, e sim "mais intensificada e complexa". O primeiro ponto abordado por ele é que junto ao incremento do volume total de defensivos, percebe-se um aumento de áreas utilizadas para agricultura, melhor produtividade e também a renovação de pastagens degradadas para a produção de grãos - e aí há novos investimentos em insumos - inclusive defensivos, que até então não estavam sendo utilizados.

O diretor de pesquisa também cita que o período indicado pelo Ipardes foi de bom momento para o agronegócio, o que acabou fomentando a utilização de tecnologias no manejo das lavouras. "Foi um período muito favorável para as commodities, inclusive a questão dos preços. Quando há esse tipo de movimento, principalmente para soja e milho, tem maior possibilidade do agricultor também investir em insumos. Na safra seguinte, ele escolhe melhores sementes, faz o manejo com maior cuidado e as pragas e doenças ficam mais controladas devido às aplicações. Investimento em manejo e uma sintonia fina para a produtividade subir."

No que diz respeito ao aumento da utilização de defensivos das categorias de periculosidade extremamente a altamente tóxicos, Pellini relata que ficou surpreso com esse dado. Uma explicação seria a utilização de princípios ativos mais antigos para trabalhar de maneira integrada com moléculas novas, com a ideia de atuar nas doenças e pragas que têm quebrado resistência aos produtos. "O caminho da indústria química é ter moléculas de menor impacto, muitos produtos de maior residual e toxicidade já foram banidos ou têm mais dificuldade para obter o registro."

De qualquer forma, o pesquisador relata que mesmo nos casos de defensivos de maior toxicidade, quando são seguidos todos os protocolos técnicos e recomendações agronômicas, de manipulação, proteção e destinação final de embalagens, isso tudo acaba gerando menos impactos ambientais e na saúde de todos. "É possível melhorar ainda mais o cuidado no uso dos agroquímicos, como diversas entidades mostram no programa Plante Seu Futuro, com um monitoramento de áreas e aplicação mais tardia, não gerando aquele pressão de seleção natural da praga e assim criar uma resistência. Com os transgênicos, também temos cuidado com as áreas de refúgio. São práticas para um estado que tem três safras no período agrícola. Temos esse privilégio." (V.L.)