Um olhar mais minucioso para o solo e o produtor vai perceber a complexidade em mantê-lo fértil e produtivo. Muitas vezes, por falta de informação, quando se fala de fertilidade do solo, existe a tendência em se pensar apenas no aspecto químico, ou seja, ligado à utilização de fertilizantes. "Hoje a grande parte das informações que existem no mercado estão relacionadas à aplicação ou não de adubos. O solo vai muito além disso", explica o pesquisador da área de solos do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Élcio Balota.

Balota é doutor no assunto e nos últimos 25 anos pesquisou o solo. Recentemente ele lançou o livro Manejo e Qualidade Biológica do Solo, justamente para mostrar que apesar da fauna e microrganismos (biota) representarem pequena porção do solo, têm papel fundamental nos processos relacionados à ciclagem de nutrientes e à sua sustentabilidade, inclusive o combate à erosão. "Temos que ficar atentos aos aspectos químicos, físicos e biológicos do solo. Não adianta ele ter muitos nutrientes do lado químico, se de repente está compactado (lado físico). Não adianta ele estar bem fofinho para as raízes crescerem, mas com uma população alta de nematoides (lado biológico). É preciso o equilíbrio entre os três aspectos."

Geralmente, segundo o pesquisador, o alicerce biológico é o que fica mais escanteado, porque talvez seja o mais difícil de avaliar. Quando se coloca um nutriente, por exemplo, é possível entender o comportamento químico com apenas um teste de laboratório. "A biota determina a ciclagem dos nutrientes do solo, não só para a nutrição das plantas, mas sua sustentabilidade. Quando se trata de microrganismos, temos uma flexibilidade, cada um atuando de uma maneira, com o tempo, podem ocorrer variações e adaptações de acordo com o ambiente."

"Hoje a grande parte das informações que existem no mercado estão relacionadas à aplicação ou não de adubos. O solo vai muito além disso", alerta o pesquisador  Élcio Balota
"Hoje a grande parte das informações que existem no mercado estão relacionadas à aplicação ou não de adubos. O solo vai muito além disso", alerta o pesquisador Élcio Balota | Foto: Gustavo Carneiro



Cada manejo, portanto, gera um efeito nos indicadores biológicos, que apresentam alta sensibilidade para detectar alterações no solo, podendo apontar mudanças no seu funcionamento e na sua qualidade. "O produtor tem algumas informações, por exemplo, sabe da importância das minhocas e dos rizóbios na cultura da soja. Mas às vezes ele vê esses microrganismos como se fosse um adubo, quer saber 'qual bicho compra' para colocar na lavoura. Manter essa população em equilíbrio não é tão simples assim."

Na prática, a diversificação de culturas e um plantio direto bem feito, por exemplo, são excelentes estratégias para manter o sistema rico em organismos diversos e equilibrado, com muita vida. "Os microrganismos ajudam a evitar o processo de erosão. Quando o solo tem grumos, aqueles pelotes que chamamos de agregados, eles são feitos pelos microrganismos que produzem muitas substâncias. A rede de fios de fungos vai formando os grumos e assim o solo fica menos propenso à erosão por água, por exemplo", explica o especialista.