Imagem ilustrativa da imagem McDonald's anuncia compra de carne sustentável da Amazônia
| Foto: Anderson Coelho/02-09-2015
Projeto piloto começou ajudando a recuperar pastagens degradadas e áreas de proteção permanente que tinham sido desmatadas



São Paulo - Um programa pioneiro no Brasil que busca tornar a pecuária na Amazônia mais produtiva, menos emissora de gases de efeito estufa, menos desmatadora - e, por causa disso tudo, mais sustentável – recebeu na última quarta-feira um apoio de mercado que pode ajudar a ampliar esse tipo de iniciativa na região.
A rede McDonald's, que tradicionalmente não comprava carne proveniente do bioma em uma política de não apoiar produtos que pudessem ter sido obtidos a partir do desmatamento da floresta, anunciou um acordo de compra de 250 toneladas por ano de carne fornecida pela fazenda Bevilaqua, de Alta Floresta (MT), que faz parte do programa Novo Campo.
É ainda uma fração pequena perto das 30 mil toneladas que o McDonald's demanda por ano mas, segundo Leonardo Lima, diretor de Sustentabilidade da Arcos Dourados (empresa que administra o grupo na América Latina), o compromisso é aumentar essa compra ano a ano e construir passo a passo a nova cadeia. Pelo menos outras duas fazendas do Novo Campo também já foram auditadas pelo grupo e são consideradas aptas a fornecer carne para a rede de fast food.
"Nosso compromisso no Brasil e no mundo já vem de longa data de não comprar nada de que possa vir de áreas naturais afetadas. Mas percebemos que virar as costas para áreas degradadas e tirar do nosso mapa não é mais a melhor opção. O compromisso com o desmatamento zero segue, mas também temos de incentivar a recuperação de áreas para que seja possível aumentar a produção com menos área", disse Lima com exclusividade ao jornal O Estado de S. Paulo.
"Acreditamos que o apoio vai possibilitar que esse tipo de projeto receba mais atenção e possa ajudar a mudar a cultura do pecuarista. Normalmente ele ainda considera que quando tem pasto o gado come, quando tem água o gado bebe, a produção é baixa e ele sempre precisa abrir mais áreas para colocar pasto depois que o anterior se degradou. Esse projeto que estamos apoiando é o contrário disso, é produzir mais com menos área. O pecuarista vira um agricultor, cria as oportunidades para seu gado, com alimentação e água constantes", afirma.

INTENSIFICAÇÃO
O Novo Campo foi lançado em 2012 como uma iniciativa da ONG Instituto Centro de Vida (ICV) para ajudar a controlar o desmatamento em Alta Floresta, maior polo de pecuária no norte de Mato Grosso que tinha, alguns anos antes, engrossado a lista de municípios líderes de desmatamento no Estado, chegando a ser embargado pelo governo federal.
O entendimento era de que o boicote à carne proveniente de desmatamento - como ocorre desde 2009 quando os três principais frigoríficos do País (JBS, Marfrig e Minerva) assumiram o compromisso de não comprar de fornecedores que desmatassem - é importante, mas não suficiente, visto que há vazamentos. Produtores ilegais ainda conseguem vender para outros frigoríficos menores que não respeitam esse acordo. Era preciso tentar algo diferente, fazer o pecuarista também ganhar algo a mais com a legalidade.
O projeto piloto, com 14 proprietários de terra, começou ajudando a recuperar pastagens degradadas e áreas de proteção permanente (APPs) que tinham sido desmatadas. Depois, em uma parcela da propriedade de 30 hectares, foi implementado um pacote tecnológico da Embrapa de boas práticas pecuárias. O interesse para o proprietário era não só a possibilidade de se regularizar perante à lei, mas também aumentar sua produtividade.