Com o crescente interesse do consumidor pela alimentação saudável, a produção orgânica ganha terreno
Com o crescente interesse do consumidor pela alimentação saudável, a produção orgânica ganha terreno | Foto: Anderson Coelho/11-11-2016



A transição da cidade para o campo se assemelha mais a uma viagem por uma estrada de terra do que por uma via asfaltada. Se a busca por qualidade de vida e por uma renda maior parece atrativa, é preciso entender que se trata de um caminho tortuoso no início. O tempo mínimo para que os entrevistados pela FOLHA conseguissem sustentar a própria família com o trabalho rural foi de dois anos e todos contaram com reservas econômicas próprias e auxílio dos pais. As dificuldades foram diversas, mas todos dizem que o mais difícil é obter sucesso na comercialização da produção.

Gustavo Reis e Daiane Vetter foram os dois que conseguiram ter renda suficiente para ter uma boa vida no campo em menor tempo. De 2010 a 2012, ele afirma que precisou adaptar o estilo de vida ao que ganhava com o trabalho na chácara da família. "Hoje guardo um pouco, invisto na produção e em ferramentas", diz. "Minha maior dificuldade foi de venda, conseguir entrar em uma feira, porque não tive qualquer problema para me adaptar com a vida no campo", cita.
A bióloga Gabriela Scolari optou pelo campo em 2013 e foi somente em meados de 2015 que encaixou um bom modelo de produção. Ela lembra que, mesmo assim, conta com o auxílio do pai, que produz em uma área maior, com funcionários e acesso a linhas de crédito. "Mas os funcionários estão acostumados com outro modelo de produção, mecanizado, de soja, e precisamos de adaptações para o orgânico", conta.

Para ela, encontrar assistência técnica completa em orgânicos é outra dificuldade. "Existe o trabalho de extensão rural, mas não tiram todas as nossas dúvidas", diz. E, mais uma vez, formar a clientela é o maior desafio. "Nós nos unimos a feiras orgânicas em Londrina, fazemos cestas, mas também há o problema da certificação, porque é preciso ficar um ano em sistema de conversão da propriedade a partir do sistema convencional", completa.

Já o casal Lívia Trevisan e Samuel Cambefort está emperrada na liberação de um financiamento. Eles consideram que os bancos têm linhas mais voltadas ao agronegócio de grande escala. "Se você fala que quer fazer um projeto orgânico, de vaca de leite, o olho deles fica arregalado, ninguém sabe nada, um passa para o outro", diz Lívia.

Cambefort diz ainda que a legislação não prevê regras claras para os pequenos produtores. "Para ter o selo para vender o leite, temos de ter um laticínio para processamento, mas a legislação e a fiscalização estão com hábitos de grandes laticínios. Eles dizem que, de início, temos de fazer 200 metros quadrados, mas estamos com 12 vacas no começo e não precisamos de um espaço desses", cita.

Os dois decidiram estudar a fundo a lei, com assessoria de um engenheiro agrônomo, para enviar o projeto adaptado para os padrões deles, de no máximo 500 litros de leite ao dia, aos órgãos de fiscalização.

Difusão
Todos os casais ouvidos, porém, acreditam na importância de trabalhar a agroecologia com vizinhos, escolas e com a população em geral. "Queremos nos organizar e difundir o conhecimento para outros", diz Gabriela. "Uma boa maneira de mostrar esse sistema é pegar e chamar crianças de escolas, porque o adulto faz anos que compra o mesmo tipo de alimento", lembra Cambefort, que considera que são as pequenas propriedades que colocam alimentos na mesa de todos e garantem empregos em cidades menores.