Um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) está desenvolvendo uma tecnologia que poderá reduzir em 75% a aplicação de defensivos agrícolas nas lavouras. Um dos responsáveis pelo trabalho é o professor José Alexandre de França, do curso de Engenharia Elétrica. Ele acredita que a novidade vai contribuir para aumentar a renda do produtor e melhorar a qualidade dos alimentos que chegam à mesa da população. ''O que a gente espera com este estudo é mudar completamente a forma de usar defensivos agrícolas para tratar as doenças (das plantas) daqui para frente'', diz França.
A experiência consiste na união de dois tipos de equipamentos que foram criados em épocas distintas e, embora diferentes, são complementares. O primeiro é o ''Siga'', idealizado pelo professor Seiji Igarashi, do curso de Agronomia, e pesquisador aposentado do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Este equipamento, que tem a abreviatura do nome do professor, detecta a presença de vírus no ar, conhecidos por esporos, que podem se transformar em doenças das plantas. O ''Siga'' foi criado em 1986 para identificar a presença de pragas nas lavouras de trigo. Agora, em uma nova versão que conta com o aproveitamento da energia solar, poderá ser usado também em qualquer tipo de lavoura.
O segundo equipamento é a ''árvore eletrônica'' criada pelos professores José Alexandre de França e Maria Bernadete de Morais França. O nome se deve à semelhança que o protótipo tem com uma árvore. Ele é formado por algumas camadas de ''folhas'' que indicam o teor de umidade como se fosse na planta verdadeira. As informações são repassadas a um laboratório da universidade por chip de celular instalado no aparelho.
Enquanto o ''Siga'' vai identificar se há ou não a existência do vírus que pode causar a doença, a ''árvore'' mostra se as condições climáticas são favoráveis ou não para que a doença se desenvolva. No caso da ferrugem, por exemplo, é preciso de 6 a 8 horas de umidade para o esporo germinar. ''O objetivo do coletor de esporos é determinar quando os vírus chegam a uma determinada região, antes que as plantas sejam infectadas'', afirma Igarashi.
O engenheiro agrônomo Gustavo Migliorini, que também participa do projeto, diz que é comum o agricultor fazer aplicações periódicas de fungicidas nas lavouras obedecendo apenas a um calendário pré-determinado, mesmo sem saber se há necessidade ou não, ou seja, se há risco da doença. O professor Seiji Igarashi diz que com a adoção da nova tecnologia, o trabalho poderá ser feito de forma preventiva e não apenas depois que a planta apresenta o sintoma da doença.
Segundo ele, o aparecimento do vírus não significa que a doença vá se desenvolver, com riscos de se transformar em epidemia ou grandes infecções nas lavouras. O professor recomenda que a previsão do tempo seja acompanhada com muita atenção. Se há previsão de chuva durante três dias consecutivos de um determinado mês e o agricultor identificou a presença do vírus que pode se transformar com o ''molhamento'' das folhas, a aplicação preventiva pode ser feita dois dias antes.
Os pesquisadores garantem que as aplicaçoes dos agrotóxicos poderão ser reduzidas para uma ou no máximo duas se o agricultor usar a tecnologia de forma correta, observando a incidência dos esporos e as condições climáticas. E mesmo havendo necessidade, a aplicação poderá ser feita apenas nas áreas que apresentam maior risco. ''O que o pessoal tem feito é aplicar o fungicida depois que a planta apresenta o sintoma, mas estes equipamentos permitem que a gente saiba quando o vírus começou a chegar, antes de causar a infecção'', afirma Igarashi.