Há ociosidade de 50% na indústria de fécula, o que indica a chance de se abrir mercados para elevar os rendimentos de empresários e de produtores
Há ociosidade de 50% na indústria de fécula, o que indica a chance de se abrir mercados para elevar os rendimentos de empresários e de produtores | Foto: Fotos: Gina Mardones



Com exceção de 2015, quando os baixos preços da mandioca tornaram a fécula brasileira competitiva no mercado internacional, a produção nacional é praticamente toda voltada ao mercado interno. No entanto, empresários da região de Paranavaí afirmam que há espaço para aumentar a industrialização e buscar compradores no exterior, principalmente para itens de consumo final, como tapioca e pão de queijo.

De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), a Tailândia é hoje o segundo maior produtor de mandioca, atrás da Nigéria, e maior exportador de fécula do mundo. Com produção de 30 milhões de toneladas, os tailandeses dominam 85% do comércio internacional, principalmente na União Europeia. O Brasil, por outro lado, deve fechar a safra atual com 22 milhões de toneladas, mas tem uma média de embarques ao exterior de 5 mil toneladas. A exceção foi 2015, quando foram 35 mil.

No entanto, há ociosidade de 50% na indústria de fécula, o que indica a chance de se abrir mercados para elevar os rendimentos de empresários e de produtores, que ficariam menos sujeitos a preços baixos. "Temos produtos que usam fécula na composição e que podemos exportar, como pão de queijo e tapioca. A fécula brasileira tem uma ótima qualidade para o consumo direto, diferentemente da asiática", diz o diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam) Ivo Pierin Junior.

Ele lembra que a concorrência do produto nacional como commodity é complicada, já que os países asiáticos que são grandes produtores, como Tailândia, Vietnã e Camboja, tem menor custo de produção. "Lá, os fornecedores são pequenos produtores, sem mão de obra e sem tantos impostos como no Brasil, o que faz com que sejamos menos competitivos", diz. "Temos de ocupar nichos de mercado como ocorreu com o pão de queijo. A tapioca, por exemplo, não contém glúten, é de fácil digestão e isso traz um potencial grande de crescimento junto ao consumidor", completa.

Segundo Pierin, a tapioca ficou com cerca de 10% de toda a produção de fécula nos últimos três anos, índice sempre em crescimento. "Temos de ocupar mais as fábricas, elevar a produtividade no campo e profissionalizar mais, tanto o produtor quanto o industrial. O mercado internacional exige preparo e fornecimento constante", diz.

Tecnologia
O diretor da Abam considera que é preciso maior investimento em pesquisa para profissionalizar o plantio da mandioca. "Precisamos de um projeto encabeçado pela iniciativa privada e com institutos de tecnologia do governo, além de uma necessidade de os produtores se conscientizarem da necessidade de parceria com a indústria", sugere. Ele lembra, por exemplo, que já há um protótipo de colheitadeira de mandioca, o que facilitaria o serviço no campo. "Existe potencial para se chegar a 40 toneladas por hectare com mandioca de um ciclo", completa.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná, João Pasquini, também bate na tecla da necessidade de produtores e industriais se entenderem quanto ao fornecimento, com contratos de preço mínimo e máximo. "Assim, teríamos estabilidade para a indústria, sem que tivesse de absorver os custos porque não dá para repassar para o comprador, e remuneração garantida para o agricultor, que não sofreria com valores abaixo da inflação", diz.