José Roberto Marcolino irá reduzir a área de plantio do trigo nesta safra: "ficar trabalhando só por diversão não adianta né?!"
José Roberto Marcolino irá reduzir a área de plantio do trigo nesta safra: "ficar trabalhando só por diversão não adianta né?!" | Foto: Ricardo Chicarelli



O final do mês de abril se aproxima e produtores de algumas regiões do Paraná, principalmente no Norte Pioneiro, já iniciaram o plantio de trigo para a safra de inverno. Cultura tradicional no Estado – que juntamente com o Rio Grande do Sul representa 95% da produção nacional – pode mais uma vez passará por percalços, ligados principalmente à baixa remuneração do triticultor. Uma "história sem fim", que se repete ano após ano, justificada nesta safra pela ótima produção e qualidade mundial, a concorrência com o Mercosul e a própria sazonalidade da cultura.

Pelo que se vê até agora, mais uma vez, o produtor não vai conseguir arcar com os custos de produção. A conta é simples, produzir uma saca de trigo custa em média R$ 39 ao produtor. Neste primeiro trimestre de 2017, o preço está na casa dos R$ 31, aproximadamente 20% menor do que no mesmo período do ano passado, quando custo e venda empataram. Em toneladas isso representa uma diferença de R$ 231: R$ 660 contra R$ 429. "Em 2016, os custos já estavam empatados com a comercialização. Agora, a cultura está dando prejuízo aos produtores", explica Carlos Hugo Godinho, analista de trigo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab).

Movimentação de preços que, claro, impacta na produção estadual. A expectativa é de uma colheita até agosto de 3,2 milhões de toneladas, queda de 4% frente a ótima safra do ano passado. A área também deve reduzir em torno de 4%, fechando em 1,048 milhão de hectares. Hoje o País produz em média 6 milhões de toneladas, mas tem uma demanda de 11 milhões, suprida por países do Mercosul, Canadá e Estados Unidos. Vale dizer que esse trigo importado – além de altamente competitivo e de qualidade – é importante para as misturas propostas pela indústria.

A Argentina, por exemplo, é um dos principais exportadores do trigo para o Brasil (em torno de 3 a 4 milhões, principalmente para os moinhos do Nordeste), finalizou a colheita da safra em janeiro e vem com safra cheia neste ano. "Eles vêm com uma safra muito boa e têm um valor mais em conta nos custos de produção. Ou seja, é mais trigo entrando no País."

Apesar do produto argentino forte nos moinhos nacionais neste ano, Godinho acredita que de forma geral a produção mundial pode ser um pouco menor, principalmente devido aos Estados Unidos. "A safra americana vai diminuir um pouco a área, com projeção menor para o trigo de inverno. Isso pode fazer a produção global cair um pouco".

Mesmo assim, o especialista acredita que, de forma geral, o cenário dos produtores é pior do que ano passado. Na região de Londrina, por exemplo, a queda estimada na área de plantio é de pelo menos 10%. Muitos iniciaram o plantio pouco antes do feriado, no dia 20. "A safra argentina deve ficar em torno de 15 milhões de toneladas, sendo o país nosso principal concorrente e fornecedor. A grande questão é que quando se trata da safra de inverno em larga escala, as opções não são muitas, sendo o milho safrinha, trigo e cevada".

Mercado baixista desestimula produtores

Basta dar uma olhada rápida nos números projetados pelo Deral para perceber que praticamente todas as regiões do Estado diminuíram a aposta no trigo para esta safra. A Norte – principal produtora – reduziu de 437,6 mil hectares para 429,5 mil, queda de 2%. Já no Sul, a queda foi de 9%: de 243 mil hectares para 222,2 mil. Centro-Oeste (-12%), Sudoeste (-12%) e Noroeste (-56%) completam a lista. Apenas o Oeste ganhou fôlego: saltando de 136,6 mil para 156,5 mil hectares, uma alta de 15%. Na média geral, a diminuição foi de 4%.

Na região de Londrina a área para a atividade caiu 10%, de 41,1 mil para 37 mil hectares. Os produtores de trigo que conversaram com a FOLHA confirmam que a principal motivação para deixar a cultura de lado foi justamente o mercado baixista, sem perspectivas de melhora dos preços. Já de largada, durante a semeadura – que em nossa região iniciou em torno do dia 20 de abril – os valores não são nada atrativos para o produtor. Na semana que passou, a média de comercialização era de R$ 31,50 para a saca.

Paulo Muraoka, que trabalha num área de 150 alqueires no distrito de Paiquerê, é um desses exemplos de como o mercado ruim desestimula o plantio. Ano passado, ele apostou em 90 alqueires de trigo e 40 de milho. Nesta safra manteve o milho, mas apostou apenas 18 alqueires no trigo. "O mercado está baixista. Na safra anterior consegui comercializar a R$ 45 a saca, o que foi muito bom. Agora, na semeadura, o preço já saiu a R$ 31,50. Imagina na hora da colheita como vai ficar", projeta ele.

O produtor relata ainda que a situação do trigo é sempre muito parecida: existe uma perspectiva boa para os preços, que sempre é frustada na época da colheita e com a abertura do mercado para o produto que vem de fora. "Com isso os moinhos pagam bem pouco para a gente. Além disso, sempre existe um receio de investir na safra de inverno, principalmente devido às geadas e chuvas na colheita", pondera.

Pensando na safra de verão, que ano após ano "segura as pontas" dos produtores, Muraoka resolveu deixar a maior parte da área em pousio, pensando na análise de solo, calagem e descompactação. "O custo médio do trigo fica geralmente em 80 sacas por alqueire, para uma produção de 120 sacas. No caso da soja deste ano, por exemplo, foram 150 sacas por alqueire de produtividade, com um custo que deve fechar em 60 sacas. Foi uma safra de verão muito boa, que está ajudando a colocar a casa em ordem depois de um ano passado ruim".

José Roberto Marcolino irá apostar 20 alqueires de trigo em sua área no distrito de Maravilha, o que representa em torno de um quinto da propriedade. Na safra passada, a aposta foi de 30 alqueires. "A cada ano está diminuindo a área e se o mercado continuar assim, eu não vou plantar nada no ano que vem. Além disso, brusone é uma doença bem complicada. Todas as vezes que eu plantei no cedo ela apareceu. Por isso este ano deixei para depois do dia 20 (de abril)".

Para Marcolino, a cultura acabou se tornando complicada pela impossibilidade do produtor conseguir arcar com os custos de produção. "Só em adubo, veneno e semente na safra passado gastei 80 sacos por alqueire, para no final das contas produzir 60. Se eu produzir menos que isso nesta safra, ano que vem não aposto de novo. Está aí minha desilusão. O ideal era vender pelo menos R$ 40 a saca, mas sempre fica de R$ 30 a R$ 32".

Questionado se a situação do trigo é possível de melhorar no futuro, Marcolino não vê muitas perspectivas. "O trigo fica lá na cooperativa e ninguém compra. Quando o moinho precisa, se estiver caro aqui, ele busca fora. E se vender barato, não cobre os custos. Ficar trabalhando só por diversão não adianta né?!".

Pelo menos, quando olha para o milho safrinha, o produtor fica um pouco mais animado. "Fiz um contratinho de R$ 27 a saca e pelo menos vem um lucro. Já a soja fechei em média de 145 sacas por alqueire com custo de 80 sacas por alqueire. A safra de verão compensa um pouco esse inverno. Com a soja não tem muito erro", complementa.