A popularização do comércio de sementes fez com que a indústria buscasse garantias de vigor, germinação e produtividade, que é o que o agricultor quer quando compra a matéria-prima para qualquer cultura. Porém, o hábito de salvar sementes para a próxima safra gera uma discussão sobre as melhores práticas para o trabalho no campo, já que quanto mais maduros são os grãos, menor o vigor.

Nesse contexto, especialistas defenderam padrões mais rígidos e a exigência de certificações para atestar a alta qualidade das sementes, como formas de combater também a pirataria, durante o 20º Congresso Brasileiro de Sementes, em Foz do Iguaçu. Pesquisador da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo), Júlio Marcos Filho lembra que o índice de vigor da semente não é garantia de produtividade, mas de que aquele lote de grãos possui potencial para germinação uniforme, com velocidade e com resistência frente a estresse, em comparação a produtos sem certificação. Por isso, diz existir confusão entre produtores que não obtêm os melhores resultados quando não obedecem o manejo correto, por exemplo.

O pesquisador da USP defende as métricas de qualidade usadas e diz que o agricultor também precisa confiar. "O Brasil é o país do mundo onde há a mais capacitação em vigor de sementes", diz. Ele lembra que dos sete autores do manual da Associação de Analistas de Sementes Oficiais (AOSA, na sigla em inglês), uma das duas principais entidades do setor nos Estados Unidos, quatro são brasileiros.

O vigor da semente é indicativo de que a planta terá mais resistência a estresses
O vigor da semente é indicativo de que a planta terá mais resistência a estresses | Foto: R.R.Rufino/Arquivo Embrapa



Para Marcos Filho, os reflexos do que os rótulos de produtos certificados informam são bem definidos. "Só isso já justificaria comprar sementes de alto vigor", afirma. Por isso, diz que colocar insucessos na conta das sementes é errado, já que todo o desenvolvimento é afetado por aspectos climáticos, de fertilidade do solo, de sanidade e até mesmo pela profundidade da semeadura.

O pesquisador José de Barros França Neto, da Embrapa Soja, diz que o vigor da semente é indicativo de que a planta terá mais resistência a estresses. Ele lembra que salvar sementes, que quanto mais maduras têm menores homogeneidade e vigor, gera perdas no fim da colheita. "Cada planta a menos por metro quadrado significam de 180 a 240 kg a menos por hectare", diz.

Para ele, produtos de menor vigor são os responsáveis por esses espaços vazios. "Isso reduz a eficiência da colheita mecanizada e aumenta o uso progressivo do número de sementes mortas", completa França Neto. Ele diz que quem usa semente de baixo vigor acaba aumentando a quantidade semeada, o que mostra que não é um corte de gastos inteligente.

No caso de hortaliças, o pesquisador da Embrapa afirma que o baixo vigor de sementes reduz não apenas a produtividade, mas o tamanho, a uniformidade e a qualidade do produto, que acaba sendo vendido por um preço menor.

Já o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Semente (Abrass), Marco Alexandre Bronson e Sousa, defende o resgate do relacionamento de confiança entre o agricultor e o sementeiro. "O produtor de semente tem que fazer mais do que vender semente. É preciso entregar na época certa, acompanhar o plantio e posicionamento da lavoura, orientar o produtor. Não é só qualidade de semente, é preciso oferecer um serviço de qualidade desde a entrega." (F.G.)