Se instituições ligadas à defesa sanitária, pesquisa e empresas do agronegócio muitas vezes batem na tecla que existe um exagero acerca de como se trata sobre a utilização e consumo de agrotóxicos no País, por outro lado é preciso dizer que as estatísticas, muitas vezes, assustam de fato.

E isso aconteceu de forma bem clara quando a reportagem se deparou com o trabalho da geógrafa Larissa Mies Bombardi, coordenadora do Laboratório de Geografia Agrária da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade e São Paulo (USP). Nos últimos anos, ela realizou um levantamento impressionante sobre o impacto do uso dos agrotóxicos no Brasil, trazendo à tona muitas vezes números escondidos, como em casos ligados à intoxicação de produtores e crianças na zona rural.

É claro, que nos Estados onde o agronegócio é mais latente, existe uma tendência natural que os números pesem mais. Na média anual de uso de agrotóxicos por região entre 2012 e 2014, o Sul ficou em segundo lugar, com 224,9 mil toneladas, sendo o Paraná responsável por pouco mais de 50% deste volume. "Os dados mostram a diferença de volume de agrotóxicos que utilizamos quando, comparamos, por exemplo, com a União Europeia. Além disso, ainda permitimos produtos que lá já foram banidos há dez anos, além do índice de resíduos serem mais toleráveis. Sem dúvida, o olhar do País não está na saúde da população, mas em outros interesses", salienta ela.

O que mais impressiona no trabalho de Bombardi é quando se vai para a intoxicação que esses produtos causam, baseado em dados do Ministério da Saúde. Foram 10.912 pessoas intoxicas por defensivos (no trabalho) entre 2007 e 2014. O Paraná lidera o número de casos nesse período do País, com 3.723 situações, sendo 1.432 trabalhadores. A grande maioria dos casos devido a acidentes ou tentativas de suicídio. "O que mais me chocou nesse levantamento são como crianças e adolescentes são intoxicados, cerca de 20% dos casos. Outro ponto é a quantidade de tentativas de suicídio utilizando esse tipo de produto."

Os casos de intoxicação no Paraná acontecem entre a pessoas de duas faixas etárias: 20 a 39 anos, seguidos de 40 a 59 anos. O Paraná também lidera o número de crianças (327) e bebês (41) intoxicados. O número de óbitos foi de 231, seguido de 151 no Pernambuco e 83 em Minas Gerais. Vale dizer que na grande maioria dos casos se trata de uma intoxicação do tipo aguda, que acontece apenas uma vez.

Por fim, quando se trata dos tipos de agrotóxico consumidos, os mais vendidos são o glifosato e o 2,4-D, ambos herbicidas. O Paraná lidera as vendas de 2,4-D, com 5,6 mil toneladas vendidas em 2014 e é segundo no ranking do glifosato, com 25,8 mil toneladas, atrás apenas do Mato Grosso.

Apesar do estudo ser um alerta vermelho sobre tudo que acontece no País e muitas vezes os números positivos do agronegócio "encobrem" tais informações, Bombardi não tem dúvidas que a população está mais alerta de como isso é conduzido. "A luz no fim do túnel é que as pessoas estão mais atentas aos malefícios gerados por esses produtos." (V.L.)