Sem acordo, é quase impossível que industriais e produtores se arrisquem em aumentar a produção e em buscar novos mercados no exterior
Sem acordo, é quase impossível que industriais e produtores se arrisquem em aumentar a produção e em buscar novos mercados no exterior



A gangorra de preços da mandioca em raiz tem sido um empecilho a mais na negociação entre industriais e produtores, porque sempre deixa um dos elos da cadeia com mais cartas na manga para fazer exigência. Se o preço está muito alto, como em 2013 e hoje, os empresários reclamam que os fornecedores não aceitam o teto definido. Se está muito baixo, como em 2015, os agricultores afirmam que os compradores não respeitam o piso.

Sem acordo, é quase impossível que industriais e produtores se arrisquem em aumentar a produção e em buscar novos mercados no exterior. Para o técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e professor de economia rural da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Eugenio Stefanelo, seria possível ter melhores resultados no setor. "Aqui se usa alta tecnologia, com mecanização, adubação e tratos culturais que geram quase o dobro da produtividade média nacional, que é de 15,088 toneladas por hectare", conta. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), a média regional é de 28,090 t/ha.

Ao menos em um ponto os agricultores e os empresários concordam, que é preciso união entre ambos. O presidente da Associação dos Produtores de Mandioca do Paraná (Aproman), Francisco Androvicis Abrunhoza, afirma que o ideal é que os produtores plantem já sabendo o quanto venderão e o quanto será consumido pelas indústrias. "Tentei um acordo com a Abam (Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca) para termos um preço mínimo e eles romperam esse acordo na primeira vez que o custo caiu abaixo do acordado", diz.

Abrunhoza conta que o valor mínimo de então, em 2015, era de R$ 0,35 por grama e, duas semanas depois, já pagavam aos produtores R$ 0,22/g. "Dava R$ 210 por tonelada e passou para R$ 132, o que fez com que uma grande quantidade de produtores quebrasse e saísse do mercado."

Na outra ponta, o presidente do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná, João Pasquini, afirma que também tentou fazer um contrato de preço mínimo e máximo, que não foi cumprido. "Quando o valor estava abaixo do mínimo, a indústria arcou com a diferença, mas quando estava mais alto, teve produtor que desviou a produção para vender por fora", diz.

Diretor da Abam, Ivo Pierin Junior considera que o mercado tende a se regularizar em uma produção mediana, que deixe os preços em patamares bons para todos. Porém, também diz que o ideal seriam contratos futuros, como ocorre com a soja, com definição de preços. "Hoje existe um certo estoque nas fecularias e o mercado não está aceitando esses preços altos", diz.

Ainda, o diretor da Aproman reclama que os industriais são unidos para barrar preços altos. "Eles ficam regulando preço e simplesmente param de comprar", diz. Por isso, afirma que os produtores estão se organizando e já são mais de mil em um grupo de WhatsApp, que ele pede para divulgar para quem deseje aderir e receber informações sobre o mercado em tempo real. O número para contato é (44) 98451-1230.

Abrunhoza completa que não há interesse dos produtores em preços exagerados, mas em estabilidade. "O valor mínimo para que tenhamos uma margem de lucro é R$ 0,70/g e o máximo é R$ 1,00/g, porque mais do que isso e a fécula de mandioca fica menos competitiva do que o amido de milho", sugere.