Ao chegar na entrada de Marialva, o que chama a atenção dos viajantes sem dúvida é aquele cacho de uva gigante, monumento símbolo da cidade capital paranaense da uva fina de mesa. Entretanto, alguns produtores nos últimos anos desistiram da atividade e estão apostando na produção de rosas. Mudança que tem se mostrado rentável em pequenas propriedades. De acordo com números do Deral, Marialva responde por 85% da produção de rosas do Estado, com áreas de cultivo conduzidas por aproximadamente 30 produtores.

Exemplos não faltam de produtores que estão satisfeitos com a mudança no negócio rural da família. Antônio Valcir dos Reis, de 40 anos, sempre trabalhou na roça. Por muitos anos, ele focou na produção de uvas de mesa numa propriedade arrendada. "Antes de desistir da atividade, estávamos perdendo muita produção. Depois da colheita, era obrigado a jogar fora porque não encontrava compradores".

Valcir relembra que sua produção concentrava-se nas variedades itália, benitaka e brasil e também sofria muito com as chuvas na região, reduzindo a qualidade das uvas colhidas. "A gente percebeu que as dívidas estavam aumentando e não sobrava lucro para nossa sobrevivência. Há três anos resolvemos parar de vez". Quando comprou parte da área do pai, ele se preocupou em escolher uma atividade rentável num espaço pequeno, perfeito para as rosas. "A ideia surgiu da conversa com os colegas, alguns que já estavam na atividade. Me aprofundei no assunto, fiz diversas pesquisas e vi que valia a pena".

A maior dificuldade, segundo ele, é que não há especialistas na região para orientar o trabalho. "Marialva tem rosa há mais de 20 anos, e muitos técnicos não tiveram interesse em buscar conteúdo para nos ajudar na produção. A turma que mexe aqui plantou e vai se virando como pode."

Outro entrave, segundo Valcir, é a comercialização. Ele relembra, que quando iniciou, um colega pegava a sua produção para revender. "Depois esse amigo me apresentou para alguns clientes, principalmente floriculturas e decoradores. Portanto, dependemos muito do número de festas que ocorrem durante o ano". Atualmente, o produtor possui cinco mil pés de rosa plantados, o que dá em torno de 800 a 1000 dúzias por mês. "Agora, como a região tem muitos produtores, estamos comercializando a dúzia no máximo entre R$ 6 e R$ 7".

Já em relação ao manejo, o produtor comenta que o mais complexo é o controle de pragas, como o ácaro, tripes e míldio. "No verão, fica bem complicado. Como a rosa é uma cultura nova na região, muitos produtos que poderíamos utilizar não são permitidos por não terem registro no Estado". Valcir explica que as aplicações são quase diárias. "São muitas doenças, cada qual com um defensivo específico. Quando começa a chuvarada, por exemplo, surge a pinta preta. Tem semana que fazemos duas aplicações e outras muito mais".

Para o futuro, o sonho de produtor é colocar estufas para proteger a produção. Este é um dos trabalhos que o Instituto Emater vai intensificar para o próximo ano, auxiliando os produtores nesse processo. "Não dá para expandir muito a área, porque sobe a mão de obra e, portanto, os custos. O ideal da rosa são cinco mil pés por casal. Com a estufa, vou melhorara qualidade e assim ganhar preferência dos clientes". Se quer retornar para a uva? Valcir tem a resposta na ponta da língua: "A rosa da mais trabalho no manejo, mas não quero voltar para a antiga atividade". (V.L.)