Cristina Souza divide com o marido as atividades na propriedade: ele cuida da mão de obra, enquanto ela fica com a gestão e participação em cursos técnicos
Cristina Souza divide com o marido as atividades na propriedade: ele cuida da mão de obra, enquanto ela fica com a gestão e participação em cursos técnicos | Foto: Fotos: Gina Mardones



Pelas estradas rurais de terra arenosa do Norte Pioneiro as paisagens naturais enchem os olhos a quase todo instante, em espaços que ainda mesclam uma fagulha de plantas nativas em meio a um mar de cafeicultura que tanto orgulha a região.
Café de qualidade, que mescla tradição e tecnologia, e de papel fundamental para o sustento de milhares de famílias em 22 municípios da região de Santo Antônio da Platina, totalizando 6,6 mil cafeicultores em 27,4 mil hectares.

E neste cenário tão rico da agricultura familiar paranaense, lá estão as mulheres auxiliando na colheita, trabalhando no terreiro e contribuindo em quase todos os processos da cafeicultura. Ainda assim, elas estavam escanteadas no que diz respeito a receber conhecimentos técnicos sobre todo esse processo produtivo. A voz do marido se sobressaía no momento de tomar as decisões da lavoura.

Situação que nos últimos três anos tem se transformado de forma surpreendente, com o projeto Mulheres do Café, idealizado e executado pelo Instituto Emater. Com o objetivo de profissionalizá-las, devido ao seu papel fundamental nos cafezais, foram organizados grupos de mulheres em 12 cidades da região, acompanhados por uma equipe multidisciplinar que conta com engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas e economistas domésticos. São 180 mulheres que participam de reuniões técnicas e sociais, excursões, encontros, cursos e recebem em suas propriedades atendimento individualizado de assistência técnica e extensão rural.

Ação que já tem transformado as propriedades, gerando um café de maior valor agregado devido à dedicação e minuciosidade das produtoras em realizar certos processos de forma capacitada. Hoje, elas já participam de concursos de café qualidade e estão galgando o mercado internacional, de compradores que valorizam o café feito por mãos femininas: um nicho diferenciado. Tudo isso gerando renda e igualdade de gênero no meio rural.



TRANSFORMAÇÃO
A percepção sobre o papel fundamental das mulheres na produção do café motivou o início do trabalho, informa a economista doméstico do projeto, Cintia Mara Lopes de Souza. Elas, entretanto, não recebiam informações técnicas para produzir um café de qualidade sozinhas ou com os maridos. "Nos eventos de transferência de tecnologia, por exemplo, elas praticamente não participavam. Três anos depois, são 50% do nosso público".

Cintia não tem dúvidas de que, quando se trata dos processos minuciosos da cultura, como no terreiro e na colheita, o conhecimento da mulher já tem resultado em um café de melhor qualidade na região. "Na colheita, elas sabem o ponto de maturação adequado do talhão e colhem apenas este local. No manejo do terreiro, onde pode acontecer o processo de fermentação e estragar o café, elas fazem o manuseio no timing correto, de acordo com a luz do Sol. São detalhes que a mulher percebe melhor. Aliás, nos eventos técnicos, enquanto os homens estão dispersos e conversando paralelamente, elas estão anotando todas as informações com muito critério".

MERCADO
Por fim, a economista acredita que neste momento do projeto elas estão tecnicamente bem evoluídas e o foco agora é um melhor conhecimento da comercialização. Este mês, por exemplo, um grupo de 40 mulheres participou da Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte (MG), para conhecer mais como funciona o mercado. "Elas entenderam que existem outras formas de negociação, além do mercado local. Neste momento, percebemos que elas precisam ter seu produto valorizado, inclusive em cafeterias e no mercado externo, para continuarem fortes neste trabalho".

Imagem ilustrativa da imagem Elas no café