Imagem ilustrativa da imagem Drones, as novas máquinas do agronegócio
| Foto: Marcos Zanutto/19-01-2017
Nos últimos dois anos, a implantação de sensores permite equipar Drones para pulverizações de áreas direcionadas da lavoura: "Depois de mapear a lavoura com NDVI, a produtor sabe onde está uma infestação de planta daninha", explica professor da UFPR



No passado, o produtor rural olhava para o céu e se preocupava apenas com o tempo ou a chuva na lavoura. Agora, no "céu do agronegócio", informação e tecnologia ditam a safra com a utilização mais frequente dos veículos aéreos não tripulados (VANTs), ou no popular, os drones. Olhar a propriedade "de cima" - por um outro ângulo – que antes era difícil e oneroso, quase um luxo, começa a fazer parte do dia a dia dos produtores e se tornar uma necessidade.

Esses equipamentos chegaram há alguns anos para atender diferentes setores, e também têm conquistado um espaço importante no campo. Empresas e startups "brotam" por todo o País, inclusive no Paraná, na busca de um espaço neste nicho de mercado. E se antes a ideia era apenas um mapeamento da lavoura para solucionar situações simples e visuais, agora empresas oferecem, além da venda e aluguel das naves, uma gama completa de serviços que incluem monitoramento, laudos, relatórios e avaliações de diversas variáveis. Com a evolução da inteligência artificial, as informações vão desde a análise de falhas e produtividade, saúde e crescimento da vegetação, até pulverizações de defensivos direcionadas.

O professor de mecanização do departamento de solos e engenharia agrícola da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Samir Paulo Jasper, relata que os drones chegaram com o intuito de ampliar a visão dos produtores sobre o negócio. "Os drones apareceram com o objetivo de mapear a lavoura, procurar falhas simples, como na semeadura, por exemplo. Nesse sentido, hoje já não são muito utilizados e a tecnologia tomou outros rumos, bem mais consistentes".

O principal foco nos últimos dois anos foi a implantação de sensores nestas naves, chamados de NDVI (em português significa Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, que mede a densidade e as condições de áreas com vegetação). "Com esses sensores, é possível de fato analisar a lavoura por meio da geração de mapa de cores, espectros para saber por exemplo se a planta está doente, infestação de pragas, desenvolvimento vegetativo entre outras análises".

A outra linha de trabalho está em equipar os drones para pulverizações de áreas direcionadas. "Depois de mapear a lavoura com NDVI, o produtor sabe onde está uma infestação de planta daninha, por exemplo. Com uma aplicação local, concentrada, é possível controlar tais falhas. Resumindo, os drones vieram para ampliar a visão do produtor e posteriormente as pesquisas apostaram nos sensores NDVI e pulverização".

Jasper relembra que grandes cafeicultores, no passado, precisavam contratar motoqueiros para rodar a propriedade, pegar folhas das plantas em diversos pontos, para saber como estavam as doenças e informações nutricionais. "Do alto, é muito mais barato, mas ainda é preciso reduzir bem os custos. Os grandes produtores já conseguem transformar esses mapas gerados pelos drones em informações que de fato fazem diferença, mas isso ainda é um desafio para os pequenos e médios produtores. Na agricultura não é mais difícil gerar informação, mas sim analisá-la e ter um resultado final confiável".

Tecnologia veio para ficar
Comprar ou contratar serviços que ofereçam essa "varredura área" realizada pelos drones ainda é algo muito recente, não sendo tão fácil encontrar produtores que entram de cabeça nessa tecnologia, visando à análise de mapas aéreos. Entretanto, muitos já tiveram a oportunidade de ter uma visão de cima da propriedade e, claro, identificar pequenos problemas, ainda que de ordem apenas visual.

O engenheiro agrônomo Felipe Okimura trabalha com o pai e o tio em propriedades voltadas à produção de grãos nos distritos de Paiquerê e Maravilha. Este ano ele adquiriu um drone mais simples, não com a ideia de analisar de forma sistemática a lavoura, mas para ter uma visão aérea da propriedade. "É claro que o equipamento não tem uma aplicabilidade estatística como alguns que estão no mercado, mas é uma forma bacana de ter uma visão diferente e perceber manchas na lavoura que porventura não vemos aqui de baixo. Foi algo que nos ajudou em pequenos casos".

Na opinião de Okimura, essas soluções ligadas à agricultura de precisão – como é o caso dos drones – são ferramentas que "somam" a todo o trabalho desenvolvido pelos produtores. "Sem dúvida é algo que veio para ficar. Quando isso é somado à leitura de imagens por softwares, tem uma aplicação muito maior. No futuro é algo que vai se tornar essencial e com o barateamento da tecnologia facilitará demais as tomadas de decisão".

O engenheiro agrônomo, Francisco Nogara, tem uma empresa incubada na Universidade Estadual de Londrina, a Agropixel, que atua na análise e interpretação de mapas gerados por drones.

Ele explica que iniciou na atividade após perceber as dificuldades junto aos produtores de saber quanto seria a produtividade por hectare com as ferramentas tradicionais. "Recebi de presente um atlas da Europa com imagens de satélite e ali percebi qual seria o caminho para a agricultura. Sempre tive uma paixão por sensoreamento remoto".

Há três anos na área, Nogara subcontrata empresas de estados vizinhos para realizar os voos e se concentra na interpretação dos dados, como de zonas de manejo, falhas no plantio de cana, ataque de pragas e projetos de conservação de solo, além de outros diagnósticos em diferentes culturas. "Digo que não fazemos milagres e não podemos gerar a expectativa como aconteceu na agricultura de precisão, que segundo levantamento, nem 5% dos dados gerados são utilizados. O que nós propomos a interpretar, fazemos com grande qualidade. Acredito que o trabalho com drones e sensores reserva um futuro com surpresas maravilhosas" (V.L.)

Emater projeta uso do equipamento para analisar microbacias do Estado
Na busca por atender com maior eficiência os agricultores familiares e também ter uma análise minuciosa acerca das microbacias do Paraná, o Instituto Emater está estudando a aquisição de um drone. O coordenador do Programa de Microbacias da Emater e diretor do Núcleo Estadual PR da Sociedade Brasileira de Ciência de Solo (SBCS), Oromar João Bertol, salienta que seria um "recurso valioso para o planejamento e tomada de decisões".

Bertol relata que para que os técnicos da entidade conheçam as propriedade atualmente, é necessário caminhar por toda a área, o que se tornou algo mais penoso e lento frente às tecnologias ofertadas no mercado. "Em propriedades de 15 a 20 hectares (ha), com o drone vamos agilizar demais o trabalho. Também conseguiremos captar detalhes que são bem mais difíceis via terrestre, ou seja, aceleraremos os processos de conhecimento".

O discussão para saber se vale a pena adquirir o equipamento está sobre a eficiência dele para a análise das microbacias. No total, são 6.180 dessas áreas por todo o Paraná. "São áreas de três a cinco mil ha e precisamos entender melhor sobre a autonomia desses equipamentos. Sabemos também que para alguns casos, em que os drones fazem essa verificação, existe a questão da autorização para voar mais alto, que pode atrapalhar nosso trabalho. Tudo isso está sendo avaliado".

Caso consiga tal aquisição, o coordenador não tem dúvidas sobre a eficiência de análise das microbacias. "Podemos analisar como está a utilização do solo, os problemas de erosão, proteção de nascentes, condições de estradas rurais e várias outras informações por meio dessas imagens aéreas". (V.L.)