Quando se trata da produção de carne e leite no País, a população precisa estar ciente de que a utilização de antibióticos é muito pequena com fim de aumentar a eficiência alimentar desses animais. No caso da carne, como a maioria dos animais são terminados a pasto, não são tratados com antibióticos.

Rodrigo de Almeida é professor associado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) especializado em bovinocultura de leite. Ele explica que a grande maioria dos animais não recebe nenhuma dose de antibiótico durante toda a vida. "Quando muito, recebem quando ficam doentes, ou seja, para fins terapêuticos. Vale dizer que 80% a 85% do rebanho brasileiro é produzido no pasto".

No restante do percentual que são terminados em confinamento – no período de dois ou três meses antes do abate – aí sim existe a possibilidade de aumentar a eficiência alimentar com uma classe particular de antibióticos, chamada de ionóforos, autorizada no Brasil, Estados Unidos, mas proibida em alguns países europeus. "Utiliza-se uma dosagem correta para aumentar a eficiência alimentar, mas não são todos os confinamentos", relata.

Rodrigo explica que no Brasil tal antibiótico não é proibido porque não é utilizado na terapêutica humana. "Até hoje, na história da medicina, ninguém foi tratado com ionóforos. O mercado comum europeu utiliza o chamado 'princípio da precaução', justificando que no futuro pode ser utilizado pela população. Isso levou à proibição. Por outro lado, brasileiros e americanos acreditam que essa é uma forma disfarçada dos europeus protegerem o mercado".

No caso do leite, quando as vacas entram em fase de lactação, elas podem ser tratadas com ração para aumentar o volume produtivo e, então, recebem antibióticos. "Nas principais bacias leiteiras do País, você tem um grande número de vacas que se alimentam de ração diariamente. Nesse caso, normalmente há presença do ionóforo monensina. Vale repetir que a dosagem é muito baixa, são produtos permitidos no Brasil e não utilizados na medicina humana".

Por fim, o professor salienta que a utilização de antibióticos para a produção de carne bovina e leite no Brasil "não é um problema". Mesmo assim, ele acredita que existe uma tendência de substituição desses produtos, muito mais pela pressão do mercado consumidor do que um fato técnico. "A cadeia terá que aceitar a proibição de ionóforos mesmo acreditando que eles não fazem mal e não produzem superbactérias. Há cinco ou seis classes de produtos que podem entrar no lugar dos ionóforos, mas nenhum deles com a mesma eficácia". (V.L.)