Operação Carne Fraca levou a pecuária de corte nacional ao "fundo do poço"
Operação Carne Fraca levou a pecuária de corte nacional ao "fundo do poço" | Foto: Ricardo Chicarelli



"(O avião) da suinocultura veio para a pista de pouso praticamente de lado em 2016 e 2017. Para 2018, acho que chegaremos com um pouco mais de tranquilidade". A analogia usada pelo presidente da APS (Associação dos Suinocultores do Paraná), Jacir José Dariva, explica como estão as projeções do setor para este ano. Após problemas sérios enfrentados pela cadeia – principalmente em 2016 – com preços horríveis comparado aos custos de produção, existe uma possibilidade de alívio maior daqui para frente.

Na análise referente a 2017, Dariva comenta que os preços ao suinocultor não fecharam o ano como iniciaram, mas o período se findou com os estoques baixos nas granjas. "Fechamos o ano com animais bastante leves, ou seja, menos carne estocada no campo. No período de crise, geralmente seguramos os animais pesados no campo. Desta vez, conseguimos fechar tudo normalmente". "Uma pena que não tivemos uma renda grande no último quadrimestre como aconteceu no início do ano e o Natal também acabou ficando na normalidade, sem grande consumo", lamenta.

De qualquer forma, o cenário do ano passado fez com que o quilo do suíno oscilasse entre R$ 3,50 e R$ 4,30 o quilo, bem melhor que 2016. "Fechamos o ano sem uma lucratividade grande, mas também sem prejuízos. Aconteceu a situação da (operação) Carne Fraca e os investimentos foram poucos. Mas agora acreditamos que esse cenário muda um pouco. Já percebemos isso pelos empreendimentos que estão surgindo em nossa cadeia", explica ele, que é produtor na cidade de Itapejara do Oeste (Sudoeste) e está há três anos na presidência da APS.

Para este ano – apesar de uma perspectiva de mais tranquilidade – a preocupação está, novamente, com os custos de produção. Já existe uma tendência de pressão de alta para o preço do milho devido à safra menor, portanto, o valor da carne precisa acompanhar esse movimento. "Se mantivermos os valores de 2017, com a alta do milho, novamente teremos o negócio inviabilizado. Pelo menos, não estamos entrando 2018 com tantos problemas financeiros, como aconteceu em outros momentos."

PECUÁRIA DE CORTE
Outro segmento que apanhou muito (e sem motivo) em 2017, sem dúvida, foi a pecuária de corte. A Operação Carne Fraca pegou de surpresa os pecuaristas, sem contar a prisão dos irmãos Wesley e Joesley Batista, proprietários do maior frigorífico do mundo, a JBS. "Foram acontecimentos que colocaram o setor numa crise. Felizmente não destruíram a qualidade do produto, mas destruíram sim as instituições que deveriam garantir e difundir essa qualidade", ressalta o pecuarista e presidente da ANPBC (Associação Nacional dos Produtores de Bovino de Corte), Alexandre Turquino.

Ele não titubeia em dizer que o ano passado a pecuária de corte nacional chegou ao "fundo do poço" com essas notícias que denegriram a imagem do setor. "Agora é daqui para cima. Está faltando carne no mercado e a tendência é de alta nos preços. Somos o maior exportador de carne do mundo e nossa arroba está em R$ 130, abaixo do custo de produção. Enquanto na Argentina o valor é de R$ 180, Austrália R$ 240, EUA R$ 230, Europa R$ 240... Estamos em desvantagem mesmo com uma carne de extrema qualidade, mas vamos nos recuperar. Estamos otimistas."

Leite: cautela e pressão baixista seguem no primeiro trimestre

O setor lácteo passou por uma montanha russa de emoções em 2017. No primeiro semestre, preços ótimos para o produtor de leite, com o Brasil liderando em valores comparado a outros países. Já na segunda parte do ano, o fundo do poço, com o litro não chegando nem perto dos custos de produção e tirando muitos agricultores da atividade.

Em meio a isso, a produção se mostrou sólida, com bom clima, grãos em quantidade, silagem e pastagem adequadas e redução nos custos de ração. Com isso, o volume nacional deve fechar 2017 (números ainda não consolidados) com alta de aproximadamente 4%, com o Paraná superando a média nacional.

Entretanto, a pressão baixista na comercialização é que deve ditar as regras neste início de ano. Por isso, a palavra-chave é cautela. Não adianta manter um alto ritmo de produção em meio a preços ruins. "Até março teremos um início de ano bem difícil, com pressão de baixa. Hoje o leite longa vida está sendo comercializado a R$ 1,70 o litro, o que significa R$ 0,70 para o produtor. Essa é a nossa realidade. Soma-se a isso o pessoal na praia, férias escolares, o que faz o consumo de leite cair", explica o presidente do Conseleite, Ronei Volpi.

Em relação aos produtos de maior valor agregado, Volpi surpreende com uma informação: o setor de iogurtes voltou ao mesmo consumo de 2008, ou seja, uma retração de quase dez anos. "O setor lácteo não é uma ilha e tivemos uma queda enorme. Isso vale para qualquer produto de maior valor agregado. Quem perdeu o emprego ou está mais receoso, não compra mais. Uma realidade pesada que estamos torcendo para reverter."

Com isso, cada vez mais o setor está "selecionando" os produtores, permanecendo na atividade os mais profissionalizados, que investem com cautela e conseguem controlar a produção. "É preciso ter um planejamento anual, trabalhar no balanço do ano para que se tenha positividade. Não dá para se meter em grandes investimentos sem ter a segurança de retorno. Hoje os financiamentos agrícolas estão mais caros que a própria Selic", complementa.