Passar os feriados com os tios italianos na cidade com nome no diminutivo é uma experiência familiar - e cultural - interessante para uma garota da metrópole. Para não dizer engordativa. E por que não, barulhenta. E a maioria das ações se dá ao redor da enorme mesa da cozinha.
No café da manhã tem sempre um pãozinho caseiro, um queijo fresco e leite de vaca com café feito na hora para se colocar a conversa em dia. E ai de você se decidir não experimentar o bolo de fubá porque está de dieta. Para o almoço, galinhada. Não aquela da cidade grande preparada com frango congelado e cheio de hormônios, mas sim a delícia feita com a galinha caipira batizada pelo primo com nome de gente e alimentada com milho plantado no sítio. Legumes frescos colhidos direto da horta dão um toque especial ao prato. No lanche da tarde, mais bolo e tubaína. À noite, tem pizza com massa feita em casa, com muita muçarela de búfala e calabresa, também feitas em casa. E assim vão correndo as fofocas - e os dias.
No sábado, um churrasquinho regado à cerveja deixa todo mundo feliz e tagarela. E no domingo, não pode faltar o macarrão. Ou lasanha, nhoque, canelone ou ravioli, dependendo da inspiração da ''zia''. Muito molho ''alla bolognesa'' e carne assada completam o típico almoço italiano. Pão para acompanhar, uma (ou duas) taças de vinho e, de sobremesa, a fruta da estação, colhida no pé pelo ''zio'', antes do almoço. E segue a falação com as mãos.
Crescer convivendo com o lado italiano da família me ensinou o sentido da palavra união. Desde sempre os tios aprenderam que, para sobreviver, dependendiam da ajuda do outro, se não tudo ficaria mais difícil. Especialmente naqueles anos 1950, quando o nonno resolveu atravessar o Atlântico para recomeçar a vida no interior do Brasil, no pós-guerra.
Na colônia, povoada por uma italianada de diversas regiões da velha bota, ainda hoje se escutam os mais variados dialetos e uma simples conversa na praça pode parecer uma discussão para quem acompanha de longe. Há 60 anos, era tudo igual, mas como a terra precisava ser desmatada para ser cultivada, os imigrantes ajudavam uns aos outros e assim a cidade prosperou.
Aquele ar de colônia permanece até hoje no município que mantém todas as crianças com idade de estudar na escola e que é conhecido na região por ser um pedaço da Itália no Brasil. Para mim, o local que acolheu meus avós, meu pai e tios é sinônimo de tudo de bom que a terra fértil pode dar: sustento, alimento, união, família.
Mariana Guerin é jornalista em Londrina