Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA



Manacá-da-Serra: para não errar na espécie
Sempre que viajo pelo litoral do Paraná fico encantado com o contraste entre a tonalidade lilás das flores dos manacás e o verde que restou de vegetação nas encostas da Serra do Mar.

Essa imagem permaneceu por muitos anos na minha memória, porém com o passar do tempo comecei a perceber uma forte presença daquela espécie de árvore nas floriculturas e viveiros, tornando-se tão abundante a sua oferta que me fez pensar: será que o manacá-da-serra se mudou pra cidade?

Com a possibilidade de plantar um exemplar dessa árvore passei a buscar informações sobre ela. Descobri que a espécie é originária da Mata Atlântica, seu nome na língua Tupi faz alusão a uma jovem índia chamada Manacán e há séculos é usada como remédio e em rituais de magia pelos indígenas do Brasil e de alguns países da América do Sul.

Soube que a capacidade de mudança é uma das principais qualidades do manacá-da-serra, pois quando suas flores se abrem inicialmente se apresentam na cor branca, logo passam para a cor rosa e em poucos dias tornam-se lilases, fazendo com que a árvore mostre floração com três cores distintas ao mesmo tempo. Acredito que tais detalhes, caracterizando mudança constante, levaram à definição do seu nome científico (tibouchina mutabilis).

Para os especialistas o florescimento em três tons diferentes colaborou para a sua grande disseminação no ambiente urbano, tornando-a uma ótima opção paisagística já que se trata de uma árvore de porte médio mas de grande beleza, perfeita para ornamentar calçadas e jardins.

Cheio de conhecimento e me achando um sabe-tudo, fui atrás de uma muda para enfeitar a entrada da minha casa. Mas o que eu não sabia, e hoje constato que muita gente não sabe, nem a maioria dos vendedores de mudas, é que o pé de manacá tem raízes pouco invasivas, precisa de sol pleno e solo fértil, rico em matéria orgânica, úmido e drenável. Por isso é que não se adapta tão facilmente em solo pobre e sem adubação, além de exigir regas e podas corretas. Muitas pessoas acabam se frustrando, porque em curto espaço de tempo após o plantio, seus galhos começam a secar e a árvore acaba morrendo.

Assim, meio presunçoso, fui comprar meu pé de manacá e escolhi o mais vistoso entre os exemplares que a vendedora me mostrou. Na hora de levar, tive dúvidas, então perguntei à vendedora se era mesmo o manacá-da-serra, pois sabia da existência do manacá-de-cheiro, uma espécie parecida, mas extremamente perfumada. Ela me garantiu que aquele era justamente o que eu procurava, o verdadeiro manacá-da-serra, também conhecido por manacá-do-mato.

Puro engano. Poucos meses depois do plantio, o manacá floresceu em pleno inverno, quando o normal seria a florada ocorrer no começo do verão. Contrariado, fui me informar com o dono do viveiro de mudas e, para meu espanto, fiquei sabendo que a planta que eu havia comprado não era o manacá original, mas sim um manacá-da-serra anão!!

Resta me conformar e aprender que muitas vezes quando penso que sei tudo, na verdade pouco eu sei. Como não quero arrancar o baixinho, vou cuidando dele com carinho, mesmo sabendo que jamais chegará à altura dos seus parentes nativos da Serra do Mar.

Gerson Melatti é leitor da FOLHA