Minha mãe e suas galinhas
Eu era menina e, virava e mexia, tinha gente da vizinhança gritando no portão de casa: "Dona Augusta, tem ovos?". Na maioria das vezes, tinha. Além dos ovos, minha mãe também vendia frango caipira mas, nesse caso, sob encomenda. Os ovos meu pai trazia do sítio diariamente. Era parte da lida dele percorrer os ninhos para recolher a produção, dar comida, trocar a água, limpar o galinheiro.

Uma trabalheira que hoje, na triste ausência de meu pai, minha mãe assumiu. Dia sim, dia não, ela - já perto dos 80 anos - vai para o sítio e anda pra lá e pra cá cuidando das galinhas. Se tem um bicho que minha mãe gosta, é galinha. Como costuma dizer, "tem serventia".

E quanta serventia tiveram as gerações de galinhas que se criaram na propriedade de meus pais. Ovos para consumir em casa, para vender, frango para o almoço de domingo - tantas vezes acompanhando a polenta que meu pai tanto gostava - frango para vender, galinhas para as canjas nos casos de convalescença.

Também considero serventia a alegria que as danadas das galinhas trazem ao coração de minha mãe. Uma nova ninhada de pintinhos é sempre motivo de comemoração. Afinal, essa criação começou há quase 60 anos, com cinco galinhas e um galo, presente de casamento de minha avó materna.

Na minha cabeça, imagino meus pais jovens, com oito dias de casados, atravessando a pé o sítio onde foram morar, da família de meu pai, até o sítio da família de minha mãe para buscar o presente. Será que foram de mãos dadas? Isso, preciso perguntar. Na volta, tenho certeza que não. Tinham que carregar as galinhas.

Então, meu pai construiu um galinheiro e esse foi o começo de tudo. Hoje, sempre que vamos ao sítio, meu filho de quatro anos anda com a vó atrás das galinhas, ajuda a tratar. Acho bonito. De vez em quando faz uma arte, sujando a água delas, coisa de criança. Mas que bom que ele também gosta de galinhas.

Cristina Luchini, leitora da Folha de Londrina