Imagem ilustrativa da imagem Dedo de Prosa



O aroma do café
Verdadeiro ouro da região Norte do Paraná nos tempos áureos de produção, o café sempre esteve presente nos meus dias. Por mais que não seja seu grande apreciador e raramente tome o "cafezinho", que é sagrado para muitos, convivi com o grão desde criança, o que me remete a lembranças boas e que hoje ficam guardadas com carinho na memória.

Meu avô paterno, o seu Juca, era um devoto nato do café. De origem humilde, começou na lavoura a construir sua história, que ficou completa quando conheceu minha avó, mudando-se do Rio de Janeiro, onde morava, para Ibiporã, em busca de uma vida melhor por meio do cultivo cafeeiro. E foi o que conseguiu e manteve mesmo depois de aposentado.

Na casa do vô Juca, um extenso espaço do terreno, no fundo da casa simples e de madeira, era dedicado à plantação de café. Bonita e bem cuidada, a lavoura dava o toque especial ao quintal, juntando-se às bananeiras e aos pés de alface, cebolinha e salsinha. O lugar era o oásis dele, que encontrava ali o passatempo preferido após décadas de trabalho.

Pequeno, eu acompanhava tudo. Desde a plantação até a colheita, era o companheiro dele, mesmo ajudando menos do que deveria pelas limitações da pouca idade. Com o café já colhido, era a vez de colocar para secar. Na frente de casa, ele estendia uma grande lona preta na calçada, na qual esparramava todos os grãos. Com sua cadeira tradicional, sentava na área e dali cuidava para que ninguém mexesse, intercalando, entre uma prosa e outra, o rastelo.

Mas era o momento de torrar o café que eu mais gostava. Vó Leninha fechava todas as janelas e portas, para o cheiro da fumaça não impregnar dentro de casa, e ficávamos na parte de fora, junto ao forno a lenha, em que era colocado o torrador. Minha vó enrolava um pedaço de lençol em nossas cabeças e brigava se tirássemos, com um aviso de preocupação: "Não tira porque se pegar friagem faz mal". E era ali que passávamos à tarde, conversando e vivenciando aquele momento.

Com os grãos torrados, chegava a hora de finalizar todo aquele ciclo artesanal. Com um moedor próximo à cozinha, era a minha vez de trabalhar. Pelo menos até o braço cansar. O auge de todo o processo era no coador de pano, em que o café saia quentinho, levando o seu cheiro carregado de cuidado e amor para a felicidade dos vizinhos, que iam confraternizar todos juntos.

Hoje, alguns anos depois, não tenho mais meu avô, os pés de café tiveram de ser cortados e a casa passou por diversas reformas, mantendo pouco daquela época. As diversões já são outras e as preocupações, que não faziam parte do dia a dia, vieram. Porém, com tanta coisa diferente, o que não mudou foram as lembranças quando sinto o aroma do café. Mas agora, entre um grito e outro de que a garrafa está vazia no trabalho, um ingrediente a mais exala em meio a tudo isso quando sinto seu cheiro: a saudade.

Pedro Marconi é estudante de jornalismo