Reflexos no campo: o preço da arroba do boi recuou quase R$ 5 em um dia e refletiu sobre a agricultura ao prejudicar as cotações de milho e soja
Reflexos no campo: o preço da arroba do boi recuou quase R$ 5 em um dia e refletiu sobre a agricultura ao prejudicar as cotações de milho e soja | Foto: Fotos: Sérgio Ranalli



As exportações de carnes brasileira caíram de US$ 63 milhões na média diária deste ano para US$ 74 mil na última terça-feira (21), conforme divulgado na última quarta (22), pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Mesmo na última segunda, no primeiro dia útil após a divulgação da Operação Carne Fraca, o valor já havia sido de US$ 60 milhões. Conjuntura que faz com que o criador de gado André Carioba, de Londrina, já estime um prejuízo milionário para os próximos dias.

Ele afirma que o preço da arroba do boi recuou quase R$ 5 em um dia e refletiu sobre a agricultura ao prejudicar as cotações de milho e soja, que são usadas como ração. "Tenho 100 bois encomendados por uma empresa para este domingo e eles estão em dúvida se cancelam ou não", diz Carioba.

Normalmente, o produtor fecha um ciclo de 2 mil cabeças a cada 90 dias na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira (Norte), e encaminha até 300 por semana para o abate. Porém, ele considera que, quando o boi atinge o peso máximo no confinamento, todos os gastos com alimentação configuram como perdas. "O boi custa R$ 7 ao dia no confinamento enquanto ganha peso, mas quando chega ao máximo, ele come o mesmo valor e não ganha peso, então tenho o prejuízo do gasto e do que ele deixa de engordar. Com 5 mil confinados e se contar todo o rebanho que deveria entregar em 20 dias, é uma perda de milhões de reais", prevê.

A conta dos 20 dias é porque o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, acredita que em três semanas estará terminado o reexame das condições dos 21 frigoríficos investigados pela Polícia Federal (PF). Porém, o criador acredita que o consumo interno não será tão afetado quanto o externo. "O governo e as associações deveriam passar todo esse período na carga por informações mais precisas e para manter os compradores. Uma semana parado já vai ser demais", diz Carioba.

RISCO BILIONÁRIO
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira, relatou que o Brasil exportou US$ 13,5 bilhões em carnes no ano passado. O País é o maior exportador de carne de frango e bovina, além de ser o quarto fornecedor mundial de carne suína. Maggi estimou que os prejuízos para 2017 nos embarques serão de no mínimo 10%.

São 14 países mais a União Europeia que já suspenderam temporariamente as importações de carnes brasileiras, entre os quais Estados Unidos, China e Hong Kong. Para a indústria regional, porém, é difícil mensurar as perdas neste momento. "Os reflexos negativos com certeza vão existir, em especial, à imagem do País como exportador. Entretanto, os acontecimentos ainda são muito recentes para mensurar a extensão dos danos e os reflexos exatos no setor", diz o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins, por meio de nota.

Martins afirma ainda que o setor passa por auditorias periódicas feitas por países importadores que enviam equipes técnicas para avaliar instalações e produtos enviados aos mercados internacionais. "Neste sentido, entendo que falhas que eventualmente venham a ser comprovadas são exceções em um modelo produtivo que é referência para o mundo", cita, em nota.