O casal Lívia Trevisan e Samuel Cambefort com a filha Myla, de 3 anos: investindo no mercado de leite e queijos orgânicos
O casal Lívia Trevisan e Samuel Cambefort com a filha Myla, de 3 anos: investindo no mercado de leite e queijos orgânicos | Foto: Gina Mardones



A chef de cozinha londrinense Lívia Trevisan e o marido, Samuel Cambefort, ex-gerente comercial de uma empresa de informática, resolveram no ano passado que era o momento de trocar os empregos na cidade francesa de Montpellier pela vida no campo, em Jaguapitã, a 55 km de Londrina. Com o nascimento da filha Myla, hoje com 3 anos, eles decidiram que era hora de buscar qualidade de vida e viram na Estância Baobá, do pai de Lívia, a chance de começar um laticínio orgânico e de ganhar a vida de forma sustentável.

O exemplo do casal não é único. Pesquisadores e agentes de extensão rural dizem que, por mais que não seja o bastante para reverter a tendência de urbanização, tem se tornado comum a migração da cidade para o campo em busca de qualidade de vida e renda, com maior destaque para o Paraná.

Nem sempre, como no caso de Lívia, trata-se de um retorno ao campo. Por mais que o pai dela tenha propriedades em Tamarana e em Jaguapitã, ela passou 15 anos na Europa, estudando hotelaria e trabalhando como chef. Cambefort dividiu uma república com agrônomos, em uma chácara dentro de Montpellier, mas sempre teve o trabalho no setor comercial como ganha-pão.

Lívia conta que decidiu voltar ao Brasil em 2012, quando retornava de uma visita à família com Cambefort. Na ocasião, ela estudava tecnologia de alimentos e teria de buscar emprego em multinacionais, o que significava mudar de Montpellier. "Disse, 'quero uma vida mais tranquila, mais natureza', e foram surgindo ideias, como abrir uma pousada no Nordeste, até que meu pai me ofereceu o sítio, que estava parado", conta ela, que hoje está grávida de seis meses.

Em contato com uma consultora, pensaram em um projeto com carneiro de corte, que foi abortado quando tiveram mais informações sobre a realidade de baixo consumo e falta de matadouros na região. "Tínhamos as vacas porque queríamos ter um sistema sustentável, produzindo um pouco de cada, e comecei a fazer doce de leite e queijos, a vender para os amigos, e a aceitação foi muito boa", conta Lívia.

Era a chance de unir a profissão que exerceu na Europa e o gosto pessoal por queijos. "Vi que, no Brasil, o mercado de leite orgânico e queijo orgânico está nascendo", completa a ex-chef. Fez então cursos para a produção de queijos maturados e de variedades diferentes, em Ponta Grossa, e saiu em busca de financiamentos para comprar mais vacas, terminar a reforma do pasto e as melhorias para ter uma certificação de orgânicos, além de construir um laticínio.



Foi aí que o negócio emperrou. "Começamos a pedir o financiamento em Londrina, mas vimos que as pessoas são mais competentes para ensinar a fazer investimentos. No entanto, para o agronegócio pequeno, não", afirma Cambefort. Por um ano, o projeto ficou em um vai-e-vem, entre pedidos de mais documentos e busca por informações.

"Quando o financiamento estava pronto, a linha que conseguimos acabou. Fizemos em outra linha e, quando ficou pronto, deu errado de novo. Fomos para Jaguapitã, no Banco do Brasil, e encontramos uma pessoa que tem hábito de mexer com isso. Passados uns meses, a progressão é maior que em um ano em Londrina", conta o francês.

Dificuldades que não desanimaram o casal, que segue em viagens em busca de contatos e faz vendas de produtos em feiras. O campo, para eles, é um destino sem volta. "O bom de esperar o financiamento é que agora sabemos que o mercado aceita o produto", diz Cambefort. "Já começamos a divulgar em Londrina e vai ser mais fácil para chegar em uma loja e negociar", completa.