Para pesquisador, a pressão da crise econômica atual ajudaria a explicar por que alguns fazem o teste de pegar o caminho de volta para a zona rural
Para pesquisador, a pressão da crise econômica atual ajudaria a explicar por que alguns fazem o teste de pegar o caminho de volta para a zona rural | Foto: Marcos Zanutto



Custo elevado de moradia, violência, poluição, salários baixos, entre outros, são fatores que levam pessoas da cidade para o campo. Em termos de conforto, as duas realidades ficaram mais próximas diante do avanço tecnológico, da mecanização e do acesso ampliado à informação por meio da internet. Porém, ainda é a busca por benefícios como tranquilidade, qualidade de vida e contato com a natureza, sem deixar de lado a necessidade de renda, que estão na boca dos que fazem um tipo de migração contrária.

A tendência, dizem os pesquisadores, é que a população no campo continue a diminuir nos próximos anos. Não será um êxodo tão grande como o que começou com a mecanização da lavoura na década de 1970, mas deverá ser contínuo. O número de pessoas que viviam em zonas rurais era de 30 milhões em 2010, ou 15,6% do total, ante 160 milhões no meio urbano, conforme o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve aumento de quase 23 milhões de pessoas em dez anos, com o aumento do percentual de urbanização de 81,2% em 2000 para 84,4% em 2010.

Sociólogo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Brasília, Zander Navarro afirma que é preciso entender que o Brasil tem realidades muito distintas em cada região. "O Paraná é um caso à parte, porque tem um trabalho de extensão rural sólido, com um grupo grande de técnicos, o que não é comum", diz. "Mas o retorno ao campo não é uma tendência, e isso em lugar algum. Existe uma pressão da crise econômica neste momento, o que ajuda a explicar por que alguns fazem esse teste de voltar à zona rural."

Para ele, a particularidade paranaense é a infraestrutura no Interior. "Não é um meio rural que expulsa, mas que oferece boa condição de vida, com razoáveis educação, serviços médicos, estradas e rede de eletricidade", diz Zander. Outro destaque é a cultura cooperativista ou mesmo as associações informais de produtores ou por sindicatos rurais, que facilitam a comercialização. "A volta ao campo, hoje em dia, já não é um tiro no escuro para quem busca informação", diz.

Capacitação
O gerente de estratégia de comunicação, tecnologia de informação e métodos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Diniz Dias Doliveira, fez uma filmagem em vários pontos do Estado e encontrou mais casos de pessoas que trocaram a cidade pelo campo. Entre outros, ele cita uma família que deixou São Paulo para reassumir a propriedade da família e trabalhar com café adensado e o filho de um produtor rural que optou pela produção de shiitake no lugar de feijão, que era o que o pai plantava, e reorganizou a comunidade em torno da produção de cogumelos em Tijucas do Sul.

Ele alerta, no entanto, que todas as iniciativas dependem, e muito, de capacitação. "É preciso se reciclar. A mecanização está mais moderna e é preciso ter muito cuidado antes de começar", diz. "Mas, de forma geral, esse pessoal se dá bem porque traz uma experiência de convívio no meio urbano, conhecimento sobre o mercado consumidor, e isso muda a realidade do trabalho."

O gerente do Emater afirma ainda que a indústria de transformação está em crise e, mais do que uma volta ao campo, deve ocorrer um retorno às pequenas cidades em atividades relacionadas ao setor rural. A entidade visa um piso de dois a três salários mínimos por pessoa na propriedade.