O concurso abre portas aos participantes e destaca a região como produtora de cafés de qualidade
O concurso abre portas aos participantes e destaca a região como produtora de cafés de qualidade | Foto: Shutterstock



A 5ª edição do Concurso de Qualidade de Cafés – "Sabores do Norte Pioneiro do Paraná" deve reunir, durante a Ficafé 2017, cerca de três toneladas de grãos, da espécie arábica, de altíssima qualidade. A cerimônia de premiação será realizada no último dia da feira, que ocorre entre 4 e 6 de outubro, no Centro de Eventos de Jacarezinho. O concurso é um dos eventos mais importantes dentro da Ficafé, criada há dez anos com o objetivo de ser a vitrine dos cafés especiais produzidos na região.

A feira conta ainda com outros assuntos bem importantes para o setor: adubação organomineral, modelo de gestão feminina na propriedade, nutrição, manejo do cereja descascado, implantação de novas lavouras, curso de torra de café, degustação comentada e, claro, a comercialização de tudo que foi produzido ao longo da safra.

O consultor e gestor do projeto de Cafés Especiais do Sebrae/PR, Odemir Capello, diz que o concurso revela o potencial da produção de cafés especiais no território e é importante para os produtores ganharem vantagem competitiva no mercado. "O objetivo é que eles mantenham regularidade na produção de cafés de qualidade para conseguirem preços diferenciados."

Na edição passada, o concurso registrou um dos recordes de pontuação. O lote vencedor da categoria "Café Natural" atingiu 90 pontos segundo a metodologia de avaliação da Specialty Coffee Association of America (SCAA). As inscrições e o envio de amostras para a primeira fase do concurso 2017 ocorreram em agosto. No último dia 15 foram divulgados os lotes classificados para a segunda fase, e no próximo dia 2 de outubro serão conhecidos os lotes finalistas. Para chegar à final, os lotes passam por avaliações física e sensorial de degustadores profissionais de cafés especiais.

Durante a feira, os participantes poderão inscrever os cafés na rodada de negócios, que ocorre na forma de leilão. O lance mínimo da saca de 30 kg na categoria "Cafés Descascados" é de R$ 500. Já na categoria "Cafés Naturais", os valores começam em R$ 400. No ano passado, o maior lance dos compradores foi de R$ 1.671 por uma saca.

Para o presidente da Acenpp, Paulo José Frasquetti, o concurso mostra a capacidade da região produzir cafés excepcionais. Segundo ele, a disputa atrai muitos compradores de várias partes do país e do exterior. "O concurso abre várias portas aos participantes e destaca a nossa região como produtora de cafés de qualidade", avalia.

O presidente da Cocenpp, Ricardo Batista dos Santos, diz que a edição deste ano terá cafés excelentes. Para ele, o concurso é a "menina dos olhos do Norte Pioneiro". Santos afirma que o cultivo dos cafés especiais tem contribuído para manter os produtores no campo, já que os grãos atraem bons compradores e possuem preços muito acima dos comuns. "Nosso café já é comparado aos melhores cafés produzidos no Brasil", comemora.

Márcio Godoy, de Tomazina: "Percebi que tinha que acompanhar a tecnologia"
Márcio Godoy, de Tomazina: "Percebi que tinha que acompanhar a tecnologia" | Foto: Divulgação



'Sem qualidade, não teria futuro na atividade'
Não é preciso ser nenhum matemático para perceber a importância dos produtores do Norte Pioneiro e outras regiões se voltarem à produção de cafés especiais para sobreviverem na cultura. Se nesta safra, a comercialização de uma saca de beneficiado commodity está na faixa dos R$ 425, quando se se trata do especial, o valor fica pelo menos 30% a 40% mais rentável do que isso.

Márcio Godoy é produtor em Tomazina e sempre viveu a cultura do café. Tradição que veio do avô, passou para o pai e hoje faz parte da família, junto com a esposa e um casal de filhos, um de 17 e outro de 11 anos. Até 2010, ele fazia o manejo da forma antiga, sem a estrutura do cereja descascado e, claro, o retorno financeiro não era muito favorável. "Se continuasse no sistema tradicional não teria futuro. Percebi que tinha que acompanhar a tecnologia."

O produtor então ingressou no projeto do Sebrae e hoje faz parte da Acenpp e Cocenpp. Nesta safra, Godoy produziu 210 sacas beneficiadas sendo 20% do volume total de cafés especiais. No caso do café commodity, ele comercializou em Ribeirão do Pinhal pelo valor de R$ 480 a saca. Já o especial, vendeu apenas 50% da produção, e saiu até agora em média de R$ 1 mil a saca. "Participei de três concursos e consegui esta média. É bem complicado fazer qualidade, depende muito do clima, mas por outro lado, têm muitos compradores no mercado. Não é difícil comercializar. Já no caso do café commodity, cobri os custos de produção, mas a margem ficou muito pequena para a gente", explica.

Para "migrar" para o cereja descascado, Godoy faz parte de uma pequena associação, que adquiriu o maquinário para fazer o processamento há cerca de três anos. Mais do que novas técnicas, o cafeicultor mudou sua mentalidade - um giro de 180º - para, de fato, fazer um produto de outro patamar. "Agora olho para pragas, doenças, a sanidade desse café como um todo. Antes, nem me preocupava com a qualidade a agora sei que preciso dela para ter preço."

Apesar de todo o sucesso do Projeto do Sebrae na região, na concepção de Godoy, os cafeicultores de forma geral ainda precisam abraçar esse trabalho. "O pessoal muitas vezes, para cobrir os custos rapidamente, só pensa em colher, secar e receber o quanto antes. Mais de 90% faz dessa forma (e não pensa em qualidade)". (V.L.)