A superintendente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil(CNA), Alinne Oliveira, afirma que os produtos nacionais sofrem com a escalada tarifária conforme o processamento de insumos, na entrada nos principais países e blocos consumidores, como Japão, China, Estados Unidos e União Europeia. "Se o Brasil tivesse uma rede extensa de acordos comerciais, as escaladas tarifárias poderiam se resolver com um acordo bilateral", afirma.
A diferença causa distorções que faz com que boa parte do valor agregado dos produtos fique no exterior, como no caso de uma empresa brasileira de processamento de carne que mantém indústrias na Tailândia, de onde consegue exportar com menor custo em relação ao Brasil. "E há o caso da Alemanha, que é um dos grandes exportadores de café processado, mas não tem um pé de café plantado. Compram muito café verde de brasileiros, processam e exportam", diz. Alinne se refere à proibição no País para importação de variedades de café no Brasil para fazer blends (misturas) de acordo com o gosto de cada nação importadora, como os alemães fazem.
O economista Roberto Zurcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), afirma que boa parte dos acordos comerciais têm cotas de produtos industrializados que podem entrar com tarifas mais baixas nos países consumidores. "Os acordos bilaterais que eliminam essas barreiras não têm sido feitos nos últimos anos", diz. "Precisamos de uma política industrial clara, porque tanto o produtor agrícola quanto o industrial estão atrás dos melhores preços. Se a exportação in natura render mais, ele vai continuar a exportar, mas, se o preço interno for melhor, vamos industrializar", completa.
Assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Gilson Martins afirma que até 48% das receitas das cooperativas paranaenses vêm da agroindústria, tanto do que vai para fora quanto para o que fica no País. Entretanto, ele lembra que o Brasil precisaria aprimorar até mesmo a compreensão sobre o consumo em outros países para ganhar clientela. "Precisamos de uma atuação de marketing melhor nos mercados pelo Estado, mas também individual, de cada empresa ou setor", diz. Ele lembra ainda que algumas cooperativas recebem do Japão o tempero que usamos na carne embarcada para lá. "É uma tentativa." (F.G.)