Geraldo Casaroto arriscou iniciar o plantio antes da chuva e calcula completar todas as propriedades até o dia 25: "Estou otimista, mantive o investimento na lavoura"
Geraldo Casaroto arriscou iniciar o plantio antes da chuva e calcula completar todas as propriedades até o dia 25: "Estou otimista, mantive o investimento na lavoura" | Foto: Ricardo Chicarelli



"Estou otimista, sempre com fé que vai produzir bem, mantive o investimento na lavoura". Assim define o produtor londrinense, Geraldo Casaroto, sua expectativa para a safra 2017/18. São quase 500 alqueires para plantio de soja divididos pelos municípios de Londrina, Cambé, Ibiporã e Sertanópolis. Ele geralmente inicia o plantio a partir do dia 20 de setembro – acabou atrasando é verdade – mas nada que ele considere que possa influenciar em seu volume de produção.

Casaroto relata que acabou plantando uma parte da sua área "no pó", ou seja, antes da chuva chegar. As precipitações vieram na sequência, o que deu tranquilidade, e ajudou a seguir o trabalho. "Quando a gente planta no pó fica um pouco apreensivo, olhando para o celular pra ver se a chuva vem. No final deu tudo certo e seguimos com o ritmo de plantio a partir do dia 4. Nosso cronograma vai até o dia 20 ou 25 de outubro."

O produtor relata que este ano, apesar dos custos de produção maiores, não deixou de investir em tecnologia. Está trabalhando com quatro variedades da TMG – dois lançamentos – e uma adubação "mais qualificada". "O custo de produção está mais caro em 20%, tanto devido às sementes como aos insumos. Isso tem que ser compensado lá na frente com preço ou produtividade. Se for com os dois fatores juntos, melhor ainda."



Na safra passada, Casaroto atingiu níveis excelentes: fechou a soja em 152 sacas por alqueire. Ele acredita que pode até melhorar a produtividade este ano. "Fiz o arroz com feijão certinho, não mudei em nada. Se no preço e clima a gente não pode fazer muita coisa, na lavoura a gente faz a nossa parte. Queria fechar em 160 sacas por alqueire a R$ 75, aí fico realizado", brinca.

Apesar da descontração, o produtor sabe que é difícil atingir esses patamares de preço atualmente. "Até travei 10 mil sacas a R$ 70, mas depois achei que ia subir mais e fiquei por isso. Acho que o preço pode subir um pouco ainda, por isso a gente tem que ficar atento no mercado, aproveitando os picos certos que dá. Um olho é na lavoura e outro no mercado."

Em relação ao manejo, ele está sempre atento à buva e ao capim-amargoso, além da ferrugem asiática. "Ano passado foram três aplicações de herbicida e três de fungicida. São seis entradas na lavoura, no mínimo. E aí, o custo vai lá em cima."

Em relação os grandes players que trabalham com a venda de insumos para a safra, percebe-se um recuo do investimentos dos produtores em tecnologias, como avalia o representante técnico de vendas da Basf, Guilherme Gadelha. "Temos um portfólio muito bem adequado à necessidade do produtor da região, mas o preço da commodity deu uma esfriada no ritmo deles, que está mais reticente (para comprar). Nossa esperança é que ao decorrer da safra ele volte a animar, feche contratos e invista como fez na safra passada." (V.L.)

Soja e milho longe dos preços satisfatórios
Nem soja, nem milho estão com preços, digamos, satisfatórios para os produtores neste momento. A média da saca de soja até agora é de R$ 59,7, contra R$ 69,6 comparado ao fechamento de 2016, ou seja, uma retração de 14,2%. Quando se trata do milho, a diferença é ainda mais brutal: R$ 21,2 em 2017 contra R$ 33,7 do ano anterior, diferença de 37%.

A comercialização antecipada da oleaginosa também está inferior em relação ao ano passado. Este ano, cerca de 8% da soja já foi vendida, enquanto em 2016, no mesmo período, 12% da soja já estava comercializada. Segundo o economista do Deral, Marcelo Garrido, o produtor não está contente com o preço atual, mas "está capitalizado e por isso esperando um cenário melhor para vender."

No milho a situação é parecida, mas a comercialização acontece em ritmo bem mais lento comparado à safra anterior. Até agora apenas 1% do volume foi vendido enquanto no ano passado, na mesma época, 40% da safra prevista já havia sido negociada. Segundo Garrido, só com produtividade alta o agricultor consegue se manter economicamente com o atual preço do cereal.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Paraná (Aprosoja-PR), José Sismeiro, relata que esse preço da soja na lousa de R$ 59 ainda não é o que o produtor recebe, porque há mais 3,3% de desconto de Funrural, Senar e outros débitos. "Hoje o mercado está olhando para a chuva (de forma positiva), mas ainda não contabilizou o que foi perdido (pelo plantio atrasado). Temos uma expectativa de que possa aumentar o preço dessa soja dependendo do que for colhido. A esperança de rentabilidade melhor no futuro está ligada na alta do dólar ou numa produtividade melhor. Se somar os dois fatores, aí o cenário evoluiu de fato."

Imagem ilustrativa da imagem Casaroto: olho na lavoura e no mercado
A estiagem não atrapalhou o planejamento de Olair Menotti e o filho Vinicius; na região o plantio inicia-se em outubro
A estiagem não atrapalhou o planejamento de Olair Menotti e o filho Vinicius; na região o plantio inicia-se em outubro | Foto: Saulo Ohara



'Queremos manter nossa produtividade'
Na propriedade de Olair Menotti, em Arapongas, a estiagem do mês de setembro não atrapalhou tanto as estratégias em relação ao plantio de soja. Por ser tratar de uma região mais alta, a família geralmente inicia a semeadura agora no início de outubro. "Comecei a plantar nesta semana e, no ano passado, foi até um pouco depois. Aqui em Arapongas, não plantamos muito no cedo porque a soja não cresce, é diferente de outras regiões."

Numa área de 40 alqueires, o principal problema que a estiagem trouxe para os Menotti foi em relação ao manejo, na dessecação de parte da área para entrar com o plantio da oleaginosa. "Em metade da área, acabei não conseguindo fazer esse manejo, passar o dessecante... Tenho que esperar uns dias para plantar e isso pode acabar atrapalhando o milho posteriormente", destaca.

No dia a dia da propriedade, Olair conta com o apoio do filho Vinicius. Na safra atual, eles vão plantar variedades da Syngenta e Monsoy, algumas que já utilizaram em anos anteriores e outras que são apostas pela primeira vez. "Ano passado fechamos com uma média de 160 sacas por alqueire. Acredito que conseguiremos manter essa produtividade".

Em relação aos custos de produção, o produtor calcula que estão bem similares aos últimos anos. A única reclamação – bem recorrente de quem trabalha com grãos – é o valor da semente que, segundo eles, sobe consideravelmente ano após ano.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Paraná (Aprosoja-PR), José Sismeiro, confirma os custos similares ao ano passado, mas destaca uma movimentação econômica que não é boa para os produtores. "Mais uma vez, compramos (os insumos) com o dólar mais alto, e vamos vender (a soja) com o dólar mais baixo. O produtor precisa tomar cuidado com isso também no momento de fechar as contas". (V.L.)

Cooperativas continuam com boas expectativas
As cooperativas não veem com tanta preocupação o atraso do plantio de soja, como por exemplo, enxerga a Aprosoja-PR. Na verdade, as condições climáticas que estão por vir é o que a Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) está mais atenta neste momento. As cooperativas absorvem em torno de 70% da soja produzida no Estado. No caso do milho e trigo, 64% ambos.

"Nossa expectativa é que esta semana o plantio da soja já feche em 25%. O efeito desse atraso é reduzir mais a qualidade do plantio do milho safrinha, gerando uma menor oferta do cereal no segundo semestre, já que se trata do nosso principal volume. Mais tudo isso vai depender de como o clima irá se comportar agora. Não podemos ter mais um período sem chuva como esse que aconteceu. Nossa previsão continua positiva", explica o analista técnico da Ocepar, Moisés Tokarski.

O gerente da área de sementes da Cooperativa Integrada, Romildo Birelo, relata que existia uma expectativa, principalmente dos produtores do Oeste, a plantar mais no cedo com o adiantamento de dez dias no fim do vazio sanitário. "Infelizmente a condição climática não favoreceu para isso, mas no caso do Norte, o melhor plantio acontece em outubro mesmo."

Outro ponto que Birelo cita é que hoje os produtores têm uma capacidade técnica bem maior para se restabelecer quando acontece tais atrasos no ritmo de plantio. "Hoje eles têm uma ótima capacidade de plantio, com plantadeiras de 8, 11 linhas. Se pegarmos ritmo e plantarmos 10 a 15 dias, os números avançarão muito." (V.L.)