A necrose avermelhada no pseudocaule da bananeira é um sintoma interno do mal-do-Panamá
A necrose avermelhada no pseudocaule da bananeira é um sintoma interno do mal-do-Panamá | Foto: Fotos: Miguel Dita/Embrapa



Brasília - Mal-do-panamá é o nome popular de doença causada pelo fungo de solo Fusarium oxysporum fsp cubense (Foc), nova raça de fungos (raça 4 tropical), que está causando grandes perdas no sul da Ásia, Oriente Médio e Moçambique e é considerada a maior ameaça para a cultura da banana no mundo.

O Brasil é livre da raça 4 tropical que atinge as variedades prata, maçã, nanica e nanicão. No continente americano, a raça ainda não foi encontrada e a sua introdução poderia trazer sérios problemas para a produção de bananas, alimento básico e considerado chave para a segurança alimentar.

Diante da propagação dessa raça de fungo e o que representaria para a cultura de banana no Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio do Departamento de Sanidade Vegetal (DSV), juntamente com pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura estão desenvolvendo o Plano Nacional de Contingência, que prevê a adoção de medidas capazes de evitar a sua introdução no território nacional.

Segundo o diretor substituto do departamento, Marco Antônio Alencar, "como até o momento não existem variedades resistentes à praga, a melhor medida de controle é a exclusão, ou seja, evitar que o fungo seja introduzido no território".

Plantação em Taiwan atingida pela Raça 4 de fusarium; folhas amareladas
Plantação em Taiwan atingida pela Raça 4 de fusarium; folhas amareladas



Com esse objetivo, será realizada ampla campanha de informação, direcionada aos produtores e ao público em geral, visando alertar viajantes que se dirigirem àqueles países com ocorrência da raça 4 tropical, que evitem trazer material vegetal e adotem medidas de mitigação de risco, como a realização da limpeza dos vestuários ou de qualquer outro material, a fim de evitar contaminação.

"É preciso impedir a introdução, no país, de mudas de bananeiras sem garantias fitossanitárias adequadas, porque mesmo mudas assintomáticas podem estar contaminadas pelo fungo. Caso a raça 4 tropical seja detectada no país, medidas de erradicação de plantas, interdição de propriedades, restrições ao comércio de vegetais, a partir das áreas com a ocorrência do fungo, deverão ser adotadas, objetivando evitar a disseminação para novas áreas", explicou Alencar.

Melhoramento reduz disseminação da Sigatoka-negra
Diz o ditado popular que é melhor prevenir do que remediar. E foi na linha do melhoramento preventivo que a Embrapa resolveu, em 1982, atacar um dos mais graves problemas da cultura da bananeira e que fatalmente chegaria ao Brasil, a Sigatoka-negra. Causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, a doença já estava ocorrendo na América Central e em alguns países da América do Sul, o que facilitaria sua entrada pela região Norte.

O engenheiro-agrônomo Sebastião de Oliveira Silva, ex-pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura responsável pelo Programa de Melhoramento Genético da Banana naquele período, lembra o início do trabalho preventivo. "A Inibap (Rede Internacional para o Desenvolvimento das Bananas e Plátanos, hoje Bioversity Internacional), ligada à FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), à qual também estamos ligados, provocou esse trabalho", explica.

Segundo Oliveira, sabendo que um dos grandes problemas do País seria a Sigatoka-negra, a Embrapa conseguiu, associada à Inibap, testar alguns genótipos fora do Brasil. Os híbridos foram enviados não só para a Costa Rica, mas para diversos países onde a Sigatoka-negra era um problema. "Nós precisávamos saber se eles realmente seriam resistentes, mas, não tendo a doença aqui, era impossível fazer essa avaliação", lembra.

Melhoramento
O programa de melhoramento da Embrapa Mandioca e Fruticultura era recente – teve início em 1982 – e recebeu apoio substancial da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) tanto na indicação e contratação de consultores, quanto na organização das viagens nacionais e internacionais de coleta de germoplasma – uma amostra de variedades de uma mesma espécie de planta.

Cada amostra coletada é chamada de acesso e incluída no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) visando preservar a ampla variabilidade genética desses materiais para estudos atuais e futuros. Indispensável para a geração e o melhoramento de variedades, o BAG de banana da Embrapa Mandioca e Fruticultura tem 370 acessos, é o maior da cultura no Brasil e o segundo maior do mundo. (Reportagem Local)