O monitoramento das lavouras recomendado pelo MIP é importante ferramenta para aplicações realmente necessárias de defensivos agrícolas
O monitoramento das lavouras recomendado pelo MIP é importante ferramenta para aplicações realmente necessárias de defensivos agrícolas | Foto: R.R.Rufino/Embrapa/Divulgação



Manejo Integrado de Pragas (MIP). O produtor pode olhar esse conceito agronômico e pensar: mais trabalho para o dia a dia. Na outra face da moeda, esse manejo significa de fato sustentabilidade, menores custos de produção e, claro, menos agrotóxico na lavoura e na mesa. Bom para o produtor e para o consumidor.

Técnicos agronômicos com interesses comerciais, obviamente, tendem escantear esse tipo de procedimento. Não é o caso dos profissionais da Emater, que têm interesse na sustentabilidade das lavouras. É bem verdade que são poucos profissionais (apenas 700 no Estado) frente aos que estão ligados às revendas, por exemplo, em que a venda muitas vezes pesa mais que uma indicação respaldada na realidade da lavoura.

Para o diretor técnico da instituição, Paulo Hidalgo, o aumento do consumo de agrotóxicos no Paraná está diretamente ligado à intensificação dos trabalhos, ampliação da área e, claro, a ausência do MIP. "Os pacotes tecnológicos (com aplicações calendarizadas) estão aí. Se faz aplicações sem saber (como de fato está a lavoura). Nossa bandeira é a seguinte, vamos monitorar e usar a ciência agronômica. Calendarizar é a mesma coisa que ir na farmácia e tomar todos os remédios sem precisar, uma loucura. Tem que se tratar a saúde, e não ir atrás da doença."

Números absurdamente discrepantes. Sem a tal "forçação de barra", as aplicações caíram pela metade na cultura da soja: de cinco para um pouco mais de duas com o MIP, em média. Hidalgo concorda que muitas vezes há uma "demonização" de como se trata dos agrotóxicos, as informações às vezes chegam manipuladas para a população, mas há espaço para mudanças. "Se comêssemos o tanto de agrotóxico que se fala, já estaríamos mortos, mas dá para evoluir nesse sentido. Coordenei 12 anos a Hortinorte e a primeira ação que fizemos foi com o MIP. As aplicações caíram para 16 num ciclo de tomate, menos da metade. Os produtores passavam 15 dias sem aplicar fungicida, enquanto a turma fazia a calendarizada duas vezes por semana. Temos obrigação é de trabalhar com sustentabilidade."

Na base da via legal, Hidalgo salienta que não dá para evitar aplicação. A decisão (e consciência) é do produtor. "Temos que insistir com a nossa agenda para ter um modelo alternativo que não ofereça riscos para os produtores. Eu acredito que as cooperativas têm que caminhar nessa direção, da bandeira ambiental, afinal, elas têm dois mil técnicos no Estado."

E se para o produtor muitas vezes essa bandeira de sustentabilidade é difícil de engolir, nada melhor do que trazer resultados no bolso. "São 150 unidades de referência, local para difusão do MIP. Mas se o vizinho troca de camionete, ele faz o que a gente brinca que é a 'adoção por inveja'. O produtor é muito concreto. Ele não quer ficar contando praga e vai lá e aplica o veneno. Se ele tem ao seu lado um profissional racional, isso já contribuiria." (V.L.)