O desenvolvimento da técnica de Interferência por RNA (RNAi) representará uma alternativa ao controle químico, diz o pesquisador Eduardo Chumbinho de Andrade
O desenvolvimento da técnica de Interferência por RNA (RNAi) representará uma alternativa ao controle químico, diz o pesquisador Eduardo Chumbinho de Andrade | Foto: R.R.Rufino/Abrates



O controle de pragas e doenças em plantas será feito, no futuro, sem interferência em outros organismos ou mesmo no ambiente. O pesquisador Eduardo Chumbinho de Andrade, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, de Cruz das Almas, na Bahia, afirma que o desenvolvimento da técnica de Interferência por RNA (RNAi) garantirá alta precisão e representará uma alternativa ao controle químico. "É possível controlar apenas a espécie desejada sem afetar outras, principalmente as benéficas, como espécies que se comportam como inimigas naturais desta praga, ou mesmo polinizadores, como abelhas e borboletas."

Também será possível personalizar um produto para tratar mais de uma praga de forma simultânea, de forma tópica e com duração definida, por meio de pulverização. Porém, o pesquisador acredita que as plantas melhoradas por meio da RNAi, algo que já existe no mercado, devem ser as primeiras a aparecer no mercado.

Recentemente foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia (CTNBio), para comercialização no Brasil, a primeira variedade de milho com resistência a insetos mediado por RNAi. A planta é resistente à larva-alfinete, inseto que não tem grande relevância nas lavouras brasileiras, mas provoca severos danos nos Estados Unidos, onde foi desenvolvida.

COMO FUNCIONA
É também dos EUA, mais especificamente no Havaí, a origem da aplicação comercial da tecnologia. Andrade afirma que a RNAi funciona como um tipo de vacina e serviu para impedir que um vírus dizimasse a cultura de mamão na ilha no Oceano Pacífico na década de 1990. "A planta produz um RNA que é igual a um pedaço do RNA do vírus, e esse pedacinho ativa a defesa da planta quando o vírus tenta entrar na célula."

Outro exemplo é o tratamento de doenças que provocam o colapso de colmeias. As abelhas são alimentadas com uma solução que contém um RNA igual ao do vírus, que aumenta a resistência dos insetos a infecções. "Isso tem sido feito também com camarão. Na agricultura, há o controle de patógenos, de insetos e a última linha é o controle de plantas daninhas que são altamente resistentes ao glifosato, para reverter essa resistência", conta.

Ainda, o pesquisador conta que no futuro será possível manipular o RNA podendo reduzir a produção de substâncias não desejáveis em uma planta, como um tipo de soja com menos gordura saturada ou vacas que produzem leite sem lactose. (F.G.)