A área plantada de feijão no Paraná aumentou 5% nesta safra ante a anterior, para 194 mil hectares, com produção estimada em 364,6 mil toneladas
A área plantada de feijão no Paraná aumentou 5% nesta safra ante a anterior, para 194 mil hectares, com produção estimada em 364,6 mil toneladas | Foto: Fotos:Marcos Zanutto



Maior fornecedor de feijão no País, o Paraná teve uma baixa produção na safra 2015/16 e se preparava para uma recuperação no ciclo atual, que contou até mesmo com o aumento da área plantada. No entanto, problemas climáticos voltaram a frustrar o desempenho da lavoura, ainda que em patamares menores do que no ano passado. Como resultado, os agricultores passaram a sofrer com a gangorra de preços e chegaram a estocar os grãos, o que fez com que o produto praticamente desaparecesse do mercado na semana iniciada no último dia 29.

O primeiro problema foram as geadas entre o fim de abril e começo de maio, no Sudoeste do Estado. Renascença, no Sudoeste, é um dos 16 municípios paranaenses que respondem pela produção de cerca de 267 mil toneladas ao ano, ou 9% do total do País. Somente por lá, foram destruídos 1,7 mil hectares (ha) de lavouras de feijão, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab).

Com a menor oferta, o preço da saca de 60 quilos passou de R$ 300 no início de maio, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O momento de alta, contudo, não durou muito. "Todo esse salto de preços foi devolvido em praticamente três dias, depois que o excesso de chuvas prejudicou a qualidade do feijão", diz o coordenador da área comercial de grãos da Cooperativa Agrícola Mista de Ponta Grossa (Coopagrícola), Silvério Laskos.

Imagem ilustrativa da imagem Água no feijão



Ele lembra que os produtores estavam preocupados em colher quando o preço aumentou, mas as seguidas chuvas os impediram. Quando conseguiram oferecer o produto ao mercado, tiveram de conviver com preços menores devido à qualidade mais baixa. "Muitos preferiram colocar no armazém por alguns dias e o feijão desapareceu do mercado", conta Laskos. "Existe uma frustração de vender por quase a metade do que valia há uma semana", completa.

O cenário faz com que os analistas evitem uma previsão definitiva sobre a safra do grão. Engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Alberto Salvador conta que os prejuízos climáticos não foram uniformes. "Estimamos o equivalente de 6% a área perdida, por efeito das geadas e das chuvas, mas só vamos sentir os efeitos no próximo mês."

Salvador alerta que o aumento no valor do feijão de cor estava em 19% até o último dia 26 na comparação com o fim de abril, mas ainda era 33% menor do que em maio de 2016, quando o custo disparou. "E deve descer de patamar com a mesma velocidade com que subiu", acredita.

O custo da saca chegou a passar de R$ 500 em 2016, quando o excesso de chuvas gerou quebra de safra de 20% no Estado, segundo a Conab. Na média mensal, o maior valor registrado pago ao produtor foi de R$ 378,13 em junho de 2016, com o valor ao consumidor batendo em R$ 11,12 por quilo no mês seguinte, informa o Deral. "Em função disso, a maioria dos produtores de feijão ampliou a área plantada e os preços caíram até cerca de R$ 130 na primeira safra", conta o técnico da Conab e professor de economia rural na Universidade Federal do Paraná (UFPR) Eugenio Stefanelo.

EM NÚMEROS
A área plantada no Paraná aumentou 5% nesta safra ante a anterior, para 194 mil hectares, com produção estimada em 364,6 mil toneladas, ou 24% a mais no mesmo comparativo.

No levantamento do Deral do fim de abril, a segunda safra apontava para alta de 18% na área plantada (241 mil ha) e de 50% na produção (445,3 mil t), na comparação com a safra 2015/16. Na pesquisa do fim de maio, os números foram revisados para baixo, para um incremento de 16% no espaço (237 mil ha) e de 39% no resultado (412,0 mil t), no mesmo comparativo.

Para Stefanelo, os preços devem ficar acima do normal, que estaria em cerca de R$ 130 por saca. "Não deve baixar muito mais porque teremos oferta menor do que o esperado", conta.

Terceira safra é mínima no Estado

A terceira safra de feijão no Paraná mal deve fazer cócegas no fornecimento ao mercado, com estimativa de 4,3 mil toneladas, ou o dobro do que na safra 2015/16, segundo o o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab). No entanto, houve interesse maior dos produtores depois dos problemas climáticos registrados ao longo de maio, já que o levantamento do órgão para a área plantada estava em 3,6 mil hectares até abril e ficou em 4,2 mil ha no fim do mês passado.

Engenheiro agrônomo especialista em feijão na região de Jacarezinho, Taurino Alexandrino Loiola conta que há menor interesse para a última safra em boa parte do Estado, devido ao risco causado pelo frio e pela seca. "Como tem de irrigar, não vale a pena arriscar", diz.

Imagem ilustrativa da imagem Água no feijão



Técnico da Conab e professor de economia rural na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eugenio Stefanelo acredita que o aumento da área plantada se justifica justamente pelo preço. "Compensa muito, principalmente porque o custo do feijão não passa de R$ 80 por saca, mas é preciso cuidado porque não se sabe como o clima vai se comportar", afirma.

Mesmo assim, Stefanelo lembra que o impacto é pequeno no Paraná. "Não se planta muito na terceira safra por aqui, mas no restante do Brasil é mais significativo", completa.

Para o coordenador da área comercial de grãos da Cooperativa Agrícola Mista de Ponta Grossa (Coopagrícola), Silvério Laskos, isso não significa que as cotações possam disparar novamente. "Aquele 'timing' para vender a preços altos já passou e é hora de entender a situação do mercado."