O agronegócio, mais uma vez não decepciona
Já estamos em 2017 e a safra 2016/17 já foi colhida, com produtividades e produção recordes: 114 milhões de toneladas (Mt) de soja, 98 Mt de milho e cerca de 240 Mt de grãos, somadas as produções de arroz, trigo e feijão, junto com a soja e o milho. Novo recorde.

A safra 2015/16 enfrentou adversidades climáticas que reduziram a produção esperada de grãos em cerca de 20 Mt. Mesmo assim, o Valor Bruto da Produção agrícola foi recorde (R$ 524 bilhões) e o Brasil registrou o maior superávit comercial da sua história (US$ 47,7 bilhões). Lamentavelmente, o principal motivo para a obtenção de tal resultado está na queda vertiginosa das importações, em decorrência da crise econômica enfrentada pelo Brasil. Uma segunda causa seria a alta do dólar, que valorizou os produtos brasileiros em reais e estimulou as exportações. Mas o agronegócio, como tem sido recorrente nas últimas décadas, foi essencial para a geração desse superávit, visto que dos 10 principais produtos exportados pelo Brasil, sete foram mercadorias agrícolas, com a liderança da soja.

A soja tem sido o carro-chefe das exportações brasileiras: saldo de US$ 19,3 bilhões em 2016, favorecida pelo dólar valorizado, que sustentou os preços no mercado nacional, apesar da queda nas cotações internacionais. O aumento do consumo interno de soja para a produção de proteínas animais (carnes, lácteos e ovos), é consistente e altamente positivo pela agregação de valor ao grão. A carne, um produto marginal na pauta das exportações brasileiras até duas décadas passadas, atualmente constitui-se no quinto produto mais valorizado das nossas exportações, graças à abundância da produção de soja e milho, a matéria-prima das carnes.

Considerando as excelentes colheitas de soja dos EUA, Brasil e Argentina nas safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17, respectivamente 107, 108 e 117 Mt para Estados Unidos; 96, 97 e 114 Mt para Brasil e 61, 57 e 58 Mt para Argentina, não há motivos para o produtor de soja reclamar dos preços praticados no mercado doméstico (R$ 60 a 70/saca de 60 kg). Pareceria lógico imaginar queda acentuada dos preços de mercado, frente às super safras dos três principais produtores mundiais. Os preços caíram em relação aos anos anteriores, mas não tanto quanto se poderia esperar. O aumento da demanda, paralelo ao da produção, explica esse comportamento.

As duas últimas colheitas da Argentina não registraram aumentos iguais aos verificados no Brasil e EUA, porque foram afetadas pela falta ou excesso de chuva no plantio ou na colheita.

O Brasil, juntamente com os demais parceiros do Mercosul, constituem o principal polo produtor da oleaginosa em nível mundial: mais de 50% da área e da produção localizam-se nesta região.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja