O engenheiro agrônomo no contexto do desenvolvimento agrícola brasileiro
Neste 12 de outubro, comemorou-se o Dia do Engenheiro Agrônomo. Esse profissional vive um bom momento para usufruir das homenagens porque ele é parte do agronegócio, o setor mais dinâmico e bem sucedido da economia brasileira. O agronegócio foi responsável, em 2016, por 24% do PIB, 46% das exportações e 33% dos empregos do País. Cresceu, mesmo durante os períodos de crise. Nos últimos 16 anos, ele respondeu por quase U$ 900 bilhões de superávit, sinalizando que o Brasil depende muito do agronegócio para não contabilizar déficits monumentais na sua balança de pagamentos.

Mas o sucesso desse setor primário é recente. Tem menos de meio século a atual bonança do agro brasileiro. Para exemplificar, na década de 1940, um agricultor brasileiro produzia alimentos suficientes para atender 19 pessoas. Hoje, com muito menos esforço, alimenta 200 cidadãos. Até a década de 1970, a produtividade da agricultura brasileira ostentava um desempenho medíocre. Nessa época, o Brasil sequer produzia alimentos suficientes para auto abastecer-se, apesar do enorme potencial disponibilizado pela abundância em recursos naturais.
Estudos conduzidos no final dos anos 60 indicaram que faltava tecnologia nos processos produtivos agrícolas do Brasil e que o sistema de pesquisa agropecuária vigente era lento e ineficiente, necessitando de reformas urgentes, o que culminou com a extinção do Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária e a Embrapa foi criada para substituí-lo.

Além de pouca pesquisa, também faltavam profissionais para dar assistência técnica aos agricultores. As Escolas de Agronomia existentes eram insuficientes para atender a crescente demanda do mercado.

Eu me graduei eng.º agrº no final dos anos 60, numa das quatro escolas de agronomia existentes nos três estados da Região Sul: eram 3 no RS, 1 no PR e nenhuma em SC. Hoje, tem cinco só na cidade de Londrina. O que aconteceu?!

A resposta está nas mudanças positivas acontecidas nas atividades agrícolas brasileiras. O agro evoluiu e a atividade ganhou prestígio. Na esteira dessa transformação, o agrônomo também acabou prestigiado, porque é visto como instrumento dessa mudança. Em menos de meio século o Brasil passou de uma produtividade condizente com padrões africanos para uma produtividade de Primeiro Mundo, principalmente em regiões tropicais de baixa latitude.

O pouco prestígio que o campo exercia sobre os jovens antes dos anos 70 não os estimulava a abraçarem as ciências agrárias como destino profissional. Com as mudanças acontecidas a partir dos anos 70, o agro atraiu milhares de jovens para as ciências da terra e gerou demanda para o estabelecimento de mais de 300 cursos de agronomia, os quais disponibilizam anualmente milhares de novos profissionais ao mercado agrícola, fundamentais para que o agronegócio alcançasse o atual estágio de desenvolvimento, atualmente capaz de oferecer uma cesta básica 50% mais barata que em 1975.

Não há como desvincular o agrônomo do crescimento da produtividade agrícola do Brasil, que evoluiu pari passu com o aumento do número desses profissionais. Em 1990, a produtividade média brasileira dos principais grãos não passava de 1.500 kg/ha, contra os 4.000 kg/ha na média da safra 2016/17, consequência da utilização de mais e melhores tecnologias disponibilizadas pelos profissionais do agro.

No entanto, o Eng.º Agrº precisa, ademais de prover orientações sobre como produzir mais, preocupar-se, também, com a sustentabilidade dos recursos naturais para garantir que o campo não perca sua atual capacidade de produção e não lhe falte capacidade para alimentar os que hoje são crianças. É decisiva a intervenção desse profissional na adoção de técnicas sustentáveis de produção, como, o plantio direto na palha, o controle biológico de pragas e doenças e a integração lavoura-pecuária, entre outras.

"O Brasil é uma potência agrícola a cujo tamanho e eficiência poucos competidores são capazes de igualar" (Financial Times, em 2005).

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja