Começar bem para não terminar mal
O produtor rural moderno tem muitos desafios a enfrentar para manejar adequadamente o processo produtivo do seu campo de produção e ter lucro. Tudo o que ele não pode fazer é começar mal, semeando grãos ou sementes de má qualidade, o que resulta em lavoura com estande desuniforme, plantas com níveis diferentes de desenvolvimento e falhas na linha. Lavoura com boa plantabilidade se consegue via utilização de boas sementes, associada ao uso de semeadora moderna capaz de distribuir as sementes equidistantes e na mesma profundidade, resultando em lavoura uniforme, com plantas robustas e homogêneas. Uma boa semeadora, no entanto, não dispensa um operador hábil e responsável.

Semente de boa qualidade se caracteriza por ser sadia e ter alto poder germinativo e alto vigor, produto que se consegue, preferencialmente, junto a produtores credenciados, o que exige de tais produtores infraestrutura e cuidados especiais que não são requeridos para quem produz o grão destinado à indústria de processamento. Por causa disso, sementes custam mais do que grãos para serem produzidas e seus produtores precisam ser ressarcidos pelos custos maiores do seu processo produtivo e ter lucro. Sem essa compensação não haverá produtores de sementes no futuro e todos seremos forçados a utilizar grãos como semente, igual foi no passado, uma das causas dos baixos rendimentos da época.

O Brasil conta com uma vigorosa indústria sementeira estabelecida a partir da Lei de Proteção de Cultivares, de 1997. Existem mais de 600 produtores de semente Brasil afora, vinculados a 12 associações estabelecidas nos principais estados agrícolas do país e associadas à Abrasem (Associação Brasileira de Sementes e Mudas) e à Abrass (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja).

A novidade mais recente no mercado de sementes foi a incorporação a esse setor de empresas multinacionais de agrotóxicos, o que promoveu a verticalização desse mercado, dada a possibilidade dessas corporações oferecerem, junto com a semente, os agroquímicos por elas produzidos. O surgimento das cultivares transgênicas acelerou esse processo e a oferta de novas cultivares acelerou e a vida útil delas encurtou.

Outra novidade foi a divisão de tarefas entre as empresas altamente especializadas de biotecnologia, com as empresas menos especializadas que desenvolvem o germoplasma. Aquelas são responsáveis por prospectar genes úteis presentes no DNA de organismos vivos encontrados na natureza, e estas incorporam esses genes nas cultivares comerciais por elas desenvolvidas.

Segundo a Federação Internacional de Sementes (ISF, na sigla em inglês), o maior mercado global de sementes está nos Estados Unidos (cerca de US$ 12 bilhões), seguido da China e do Brasil, com cerca de US$ 10 e US$ 4,0 bilhões, respectivamente. Ainda, segundo a ABRASEM, mais de 80% da semente produzida no Brasil concentra-se em três cultivos: milho 40%), soja (31%) e forrageiras (14%).

A taxa de utilização de sementes no Brasil ainda deixa a desejar. O índice mais alto de utilização (2013) foi com a semente de sorgo (93%), seguido pelo milho (90%) e pela cevada (87%). A taxa mais baixa ficou com o feijão (19%). A soja, a segunda cultura que mais utilizou sementes certificadas, ficou com uma taxa média de 64%, com índices mais altos nas regiões tropicais e mais baixos nas zonas subtropicais.

A semente é a alma do negócio. Economizar na semente é dar um tiro no pé, pois a produtividade maior da boa semente – que pode não ser percebida visualmente - compensa com mais produtividade o seu custo maior.

Começar bem a safra é a receita para quem pretende terminar bem a temporada.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja