Agro é massa. Agro é top
Tem sido recorrente a veiculação de uma nota na mídia televisiva, em que se faz apologia ao agronegócio por causa da contribuição que o mesmo dá à sociedade, disponibilizando diversos produtos para consumo dos cidadãos, seja na forma de alimentos que saciam a fome da população, das fibras que produzem os tecidos que nos vestem, da celulose que dá origem ao papel dos livros que lemos, dos biocombustíveis que movimentam o carro que nos leva e traz do trabalho ou dos cosméticos que dão beleza ao corpo que recebemos de Deus, entre outros.

E quando o país considerado é o Brasil, a importância do agronegócio assume contornos ainda mais impressionantes, pois este setor contribui com cerca de uma quarta parte de toda a riqueza gerada pelo país, emprega cerca de 40% da mão de obra nacional e responde por quase metade de tudo o que o Brasil exporta.

Neste espaço, vamos comentar apenas a produção de alimentos, principal produto na pauta das exportações do país, um dos que mais produz e exporta esses produtos. No entanto, cabe salientar que, mesmo sendo o Brasil um grande produtor de alimentos, nele ainda se encontram milhares de cidadãos passando fome. Muitos desses famintos são pequenos produtores que vivem no campo, junto da produção. Muitas vezes não consomem o alimento que eles próprios produzem, porque precisam vendê-lo para conseguir algum dinheiro para outras necessidades mais urgentes; como medicamentos, por exemplo.

A falta de comida no prato de muitos cidadãos brasileiros não é consequência da incapacidade do nosso setor agrícola de produzir mais alimentos, mas da incapacidade dos nossos legisladores de elaborar políticas públicas capazes de distribuir a renda de forma mais justa e equânime, de forma a dar condições financeiras para que os marginalizados possam comprar o próprio alimento.

Alimento é saúde, que faz falta para quem não se alimenta adequadamente, quer seja na quantidade, quer seja na qualidade. Uma pessoa alimentada de maneira adequada apresenta menos riscos de contrair doenças, estando mais disposta para o trabalho, dado o bem-estar físico e mental que desfruta.

Não é saudável uma pessoa só porque ela consome grande quantidade de alimentos, mesmo que sejam alimentos de qualidade. Isso pode causar obesidade e desconforto. "Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio" escreveu Hipócrates, o pai da medicina, há 2.400 anos.

O equilíbrio do valor nutricional dos alimentos que ingerimos é fundamental, pois só existe um alimento completo, que é o ovo, mas ninguém consegue sobreviver só ingerindo ovo. O ideal é combinar alimentos que forneçam carboidratos (cereais e tubérculos), vitaminas e minerais (frutas e verduras), proteínas e gorduras (carnes e leguminosas), dentre outros. Alimentação desequilibrada não é resultado da indisponibilidade de alimentos, que componham uma dieta alimentar balanceada, mas do desconhecimento do consumidor sobre o valor nutricional de cada componente da dieta.

É crime passar fome no Brasil, dado o potencial que este país tem para produzir o ano todo e em todo lugar.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja