A partir do momento em que é realizado o ensacamento das goiabas, a aplicação de defensivo não acontece mais
A partir do momento em que é realizado o ensacamento das goiabas, a aplicação de defensivo não acontece mais | Foto: Hélio Inumaru/Divulgação



Diferentemente de outras culturas da região, que estão bem mais tecnificadas, como é o caso do café, o trabalho com as goiabas de Carlópolis é, digamos, quase "artesanal". O manejo durante o desenvolvimento de seis meses e 15 dias da fruta passa por processos que envolvem diretamente a participação do produtor na lavoura.

Produtor de goiaba e presidente da ACP, Rodrigo da Silva Viana, faz um cálculo interessante. Em seis meses, um trabalhador passa pelo mesmo pé uma média de 15 vezes, inclusive para fazer poda e raleio. "Tem que ficar na lavoura o tempo todo. Quando o clima está melhor, é momento de aproveitar para a adubação foliar ou via solo. Vemos também se o inseto que está na lavoura é benéfico ou maléfico. Uma família de quatro pessoas consegue tocar mil pés por ano, dividindo isso em talhões de produção, saindo de uma poda para outra, mas com bastante serviço."

O engenheiro agrônomo da Emater no município e produtor, Airton José Soares Capote, relata que uma produtividade interessante gira em torno de 40 a 50 toneladas por ha. As doenças que mais atacam a cultura são a ferrugem e antracnose, causada por fungos. "Aplicamos produtos recomendados para a cultura, mas a grade (de opções) é pequena. Por isso a importância de passar mais tempo olhando a cultura, não simplesmente plantar e passar o defensivo. É como uma criança que precisa de cuidado, olhando a questão da umidade, temperatura, espaçamento da área, entre outras técnicas."

A partir do momento em que é realizado o ensacamento – quando a goiaba está em média do tamanho de uma bola de pingue-pongue –, aplicação de defensivo não acontece mais. Na lavoura de Capote, por exemplo, a média é de duas aplicações, antes de podar e antes de ensacar. "São quatro meses da goiaba ensacada que estamos preocupados com a qualidade e a sustentabilidade, um produto mais saudável".

Devido a todo esse cuidado, um dos principais problemas hoje na região é a falta de mão de obra. Sem os familiares na lavoura, fica complicado a busca de pessoas para manejar o pomar. "A família é fundamental, mas de vez em quando precisa buscar gente de fora. A maior parte do trabalho, portanto, é artesanal."

Mesmo com as dificuldades, o que se percebe é um incremento da área de goiaba na região, inclusive pelos chamados "aventureiros". "Por isso a nossa esperança está em conquistar a certificação Global Gap e exportar esse produto. No meu caso, há seis anos tenho investido na propriedade, desde a questão estrutural até ambiental, passando apenas produtos recomendados, funcionários registrados e caderneta de campo em cada talhão. O trabalho está muito adiantado e a minha expectativa é que saia (a certificação) este ano, no mais tardar em 2018", complementa Capote.

Alerta vermelho para a superprodução
A qualidade da goiaba de Carlópolis e até mesmo a Indicação Geográfica (IG) conquistada ainda não fazem que ela escape dos problemas de mercado ligados a oferta e procura do produto. Começo de ano é o momento de maior produção, quando se pensa no ciclo natural dos pomares. Com isso, existe a tendência dos preços caírem significativamente no primeiro trimestre, muitas vezes chegando próximo ao custo de produção.

A estratégia então é fazer as podas de forma dividida entre os pomares, criando assim uma forma de colher a fruta o ano todo. Por exemplo, neste momento o preço do quilo da goiaba de Carlópolis está na casa dos R$ 3. No período mais volumoso da safra este valor despenca para R$ 1,20 a R$ 1,50 o quilo, muito próximo ao custo, que fica na casa de R$ 1 o quilo. "A gente cria essas estratégias para não ter muita produção nessa época", explica o produtor Noriaki Akamatsu.

Ele nasceu no meio rural em Carlópolis e atua exatamente há 30 anos com as goiabas. A área dele – que trabalha com filho e esposa – é de 2,5 hectares (ha) e a produção fica na casa de 20 a 25 toneladas por ha/ano. "Comecei a plantar justamente porque na época foi um "frisson" e uma forma de diversificar a propriedade. Ao longo de todo esse tempo, passamos por diversas situações problemáticas e muitas vezes ligadas a superprodução. De qualquer forma, acho que valeu a pena apostar na cultura."

Akamatsu acredita que essa questão da superprodução sempre deixa um alerta vermelho para a região. Com a fama recente das frutas e a possibilidade de exportação, ele teme que em dois ou três anos haja um retorno desses volumes muito grandes, o que pode atrapalhar os preços e a comercialização, inclusive no mercado interno. "Temos essa visão que logo teremos muita goiaba na região novamente. Por isso a importância de trazer algo diferenciado, como é por exemplo a certificação para a exportação. "

Junto a outros produtores, ele tem batalhado pela certificação e acredita que só assim pode ter um futuro rentável com a cultura. "Se não fizermos algo diferente, não teremos futuro. Estamos bem próximos de conseguir a certificação e é isso que vai nos salvar, se Deus quiser." (V.L.)