Imagem ilustrativa da imagem Vamos brincar de viagem!


Ela viajava com sua imaginação sem sair do quintal, de lá onde também brincava com seu amigo imaginário, Sam. Juntos, viajavam seu fabuloso mundo interno, partindo sempre da pequena ilha secreta, onde Sam vivia em prontidão, a lhe esperar e ensinar todos os truques de sobrevivência, caso a menina se perdesse em alguma ilha deserta. Enquanto isso rasgavam juntos, com seus dentes bem selvagens, o pequenino "osso da sorte", do frango caipira que a mãe acabara de cozinhar.

Foi nesse mágico quintal, vivido com seus quatro irmãos mais velhos, que a menina também assistia às corriqueiras cenas da mãe arrumando as malas do pai, sempre prestes a partir dentro de sua estrondosa carreta, que rodava esse Brasil afora.

Ah, viajar... Para ela, a carreta do pai mais parecia uma fabulosa nave espacial, onde podiam ver o mundo de cima e com tanta imponência, que sempre precisava de ajuda para poder escalar. E quando lá dentro, da cabine em movimento, competindo com os irmãos, às vezes até sentava no colo do pai, brincando dentro da própria viagem, de viajar! E foi nessa ciranda, que a menina foi rodando os lugares mais escondidos que se podia imaginar dentro desse Brasil gigante.

Mas a paixão por viagem fez a menina sonhar ir mais longe e ela sempre dizia que queria viajar o mundo. Essa história começa em outro lugar, bem depois que o mundo deu muitas voltas e a menina enfim criou suas asas, ganhando um tempo de novas liberdades, quando por um americano, se apaixonou! Sim, foi amor à primeira vista! E foi na terra do "Tio Sam" que ela pisou pela primeira vez.

Na Alemanha o jogo foi rápido! Tempo pra correr ver lojinhas e comprar os imãs de geladeira...Da simples Miami Beach à exuberante Trancoso, tudo dependia do foco, mas se o foco era o romance, dois verdadeiros paraísos! A suntuosa Paris fez jus à fama e São Miguel, cidadezinha de uma rua só, parecia ter mais antenas parabólicas que gente.

No Caribe, ela viu o mar mais furtacor!

E há quem diga que Londrina é a "pequena Londres", mas pra ela, claro que não! Lá tem rainha, Harry Potter, Big Ben, todo mundo sabe, mas ali, os maiores e melhores "lindoamigos" que ela já viveu! Tem também a verde mata dos Godoy! Algumas perobas dos versos do Arrigo ainda podem ser vistas enfeitando o campus da saudosa UEL. E tem a Zonna do Aroma que ela viu nascer! E, simplesmente, a Turma de Mami - Patrimônio Cultural!

Viajar.. Histórias que não acabam mais...

Reconectar-me com a própria história talvez seja a melhor maneira de traduzir o crescimento pessoal que as viagens trazem. Viajar é: sair do lugar! É se tornar com o lugar! É se descobrir fora do habitat. Ensinamos e também crescemos absorvendo o mundo do lado de fora. "Estar viajando" é "estar no piloto-crescimento". É limpar a poeira dos olhos e rodar com a vida, partilhando sempre as últimas notícias! É uma visão que se engloba aos olhos e sentidos. É assim que chegamos a uma nova maneira de ser, de ver e de pensar.

Viajar explica além dos livros, inclui sempre novas edições. E há sempre uma procura, onde quer que o viajante esteja. Nova York, por exemplo, nunca foi a mesma e o destino final é sempre uma surpresa, pois o viajante também já não é o mesmo! E é preciso estar disposto e ter coragem para se aventurar.

Há que saber se controlar, pois as esperas nas filas e guichês, na verdade, nunca tiveram seu glamour, mas as novas conquistas, essas sempre valem a pena! E o beijo da chegada? Ah.. esse é o melhor! E o desejo de ver de novo? Faz a viagem voltar! Todas as viagens guardam na memória aquilo que já não tem distância nem separação, pois uma chama bem viva permanece pulsante nas lembranças e no coração.

É uma experiência sempre única e de união! E que de alguma forma, psicologicamente tentando traduzir, parece reavivar todos os arquétipos desse nosso inconsciente coletivo. Sim, há viagens que vão muito mais além, cruzando as fronteiras do mundo exterior ao desconhecido, dentro de cada um de nós, lá onde somos todos um pouco Colombos desbravando sete mares, ainda que muitas vezes morrendo de medo e nos satisfazendo com cartões-postais.

Mas o sentimento de viagem é sempre o mesmo e só pode vir do espírito aventureiro, sempre impulsionado por nossos medos/desejos de ir além. Atenção senhores passageiros, apertem bem os cintos, a viagem só está começando! Lá, vamos nós! Safe Trip!


* Lucilene Garcia de Farias, psicóloga/neuropsicóloga, mestra em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente