A grande procissão do Círio de Nazaré, na manhã de domingo, reúne 2 milhões de pessoas em um trajeto de 3,7 quilômetros entre a Catedral da Sé e a Basílica
A grande procissão do Círio de Nazaré, na manhã de domingo, reúne 2 milhões de pessoas em um trajeto de 3,7 quilômetros entre a Catedral da Sé e a Basílica | Foto: Fotos: Anderson Coelho


Outubro é tempo de Círio de Nazaré, considerado uma antecipação do Natal. As mangueiras das avenidas ganham iluminação e, assim, o clima festivo toma conta da cidade. A festa em devoção à Nossa Senhora de Nazaré é a maior do Brasil e uma das maiores manifestações católicas do mundo. A grande procissão do Círio de Nazaré, na manhã de domingo, reúne 2 milhões de pessoas em um trajeto de 3,7 quilômetros entre a Catedral da Sé e a Basílica.

A programação dura 20 dias e se divide entre o sagrado e o profano. Além da procissão principal, a parte oficial do evento conta também com a Romaria Fluvial, que reúne 400 embarcações, a Motorromaria, quando a imagem peregrina é acompanhada por milhares de motociclistas pelas ruas de Belém e de cidades vizinhas, e a Trasladação, procissão realizada na noite de sábado, que faz o caminho inverso da principal.

O maior desafio é conseguir um lugar junto à corda puxada pelos romeiros durante a procissão
O maior desafio é conseguir um lugar junto à corda puxada pelos romeiros durante a procissão



Definir o Círio não é tarefa fácil, mas com certeza pode-se dizer que é um rio de gente e um mar de fé. A manhã de domingo é o grande ápice. O maior desafio é conseguir um lugar junto à corda puxada pelos romeiros durante a procissão. A disputa é acirrada e só consegue tal feito quem garante o lugar ainda pela madrugada. Mesmo com recomendação para que a corda só seja cortada ao término da procissão, os romeiros a estão fragmentando cada vez mais cedo. Ter um pedaço da corda é como ter um amuleto.

"Este ano consegui realizar o sonho da casa própria, agora estou aqui pra agradecer", conta Breno Becker, 24
"Este ano consegui realizar o sonho da casa própria, agora estou aqui pra agradecer", conta Breno Becker, 24


Iniciado o percurso, romeiros seguem o trajeto levando a imagem. Muitas pessoas cumprem suas promessas fazendo o trajeto de joelhos. Enquanto o penitente segue seu trajeto, amigos e parentes vão colocando folhas de papelão sobre o asfalto quente. Retiram de trás e colocam em frente, como em uma linha de produção. Outros seguem carregando sobre as cabeças réplicas de casas, barcos, apostilas e moldes em gesso de partes do corpo. "Este ano consegui realizar o sonho da casa própria, agora estou aqui pra agradecer", conta Breno Becker, 24.


Adepto do Hare Krishna, Prahlada Nrisimha Dada, 41, doa suco e bolo aos romeiros. "A espiritualidade é o amor pleno de Deus e independe de vínculo religioso"
Adepto do Hare Krishna, Prahlada Nrisimha Dada, 41, doa suco e bolo aos romeiros. "A espiritualidade é o amor pleno de Deus e independe de vínculo religioso"


Enquanto a multidão passa, os espectadores se espremem pelas calçadas. O calor é o principal vilão. Enquanto voluntários da Cruz Vermelha retiram desmaiados em macas, evangélicos e fieis de outras religiões distribuem água para os romeiros. É o caso do adepto do Hare Krishna, Prahlada Nrisimha Dada, 41, que há 17 anos doa suco e bolo para os romeiros. "A espiritualidade é o amor pleno de Deus e independe de vínculo religioso", considera.


Pedro da Conceição Silva, 52, pagou promessa pela recuperação da saúde da esposa carregando um terço de 15 quilos feito de coco de babaçu: "Foi um milagre"
Pedro da Conceição Silva, 52, pagou promessa pela recuperação da saúde da esposa carregando um terço de 15 quilos feito de coco de babaçu: "Foi um milagre"



Pedro da Conceição Silva, 52, pagou promessa pela recuperação da saúde da esposa carregando um terço de 15 quilos feito de coco de babaçu, árvore comum na região onde mora, no Maranhão. "Os médicos deram dois meses de vida pra ela, isso já faz 13 anos. Foi um milagre de Nossa Senhora de Nazaré", acredita. Ao passar da imagem da santa, apelidada pelos paraenses como Nazinha, ou Nazica, um menino de 9 anos chora copiosamente. "É minha mãezinha. Só o que eu tenho a dizer é muita gratidão. Gratidão, só", diz entre soluços o pequeno Pablo, acompanhado pelos pais, também emocionados.

A noite de sexta é marcada pelo Auto do Círio, homenagem da classe artística local
A noite de sexta é marcada pelo Auto do Círio, homenagem da classe artística local
"É minha mãezinha. Só o que eu tenho a dizer é muita gratidão", fala entre soluços o menino Pablo, 9, acompanhado pelos pais, também emocionados
"É minha mãezinha. Só o que eu tenho a dizer é muita gratidão", fala entre soluços o menino Pablo, 9, acompanhado pelos pais, também emocionados



Além de fé, o Círio é um palco para artistas e manifestantes. A noite de sexta é marcada pelo Auto do Círio, homenagem da classe artística local. Já na noite de sábado é a vez da Festa da Chiquita, evento organizado pela comunidade LGBT não reconhecido pela diretoria da Festa de Nazaré. Os participantes se reúnem em frente ao Theatro da Paz e aguardam em silêncio a passagem da berlinda com a imagem da santa. Em seguida, começa a apresentação de shows de transformistas, travestis, transexuais, dragqueens e misses gays. Ativistas de Direitos Humanos, feministas e outros setores da sociedade também aproveitam o evento para demonstrar suas insatisfações.

Um rio de gente, um mar de fé
Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé Um rio de gente, um mar de fé



INTERATIVIDADE: Confira a experiência imersiva da Folha de Londrina no Círio de Narazé 2017