"Eu precisava mais dele do que ele de mim", diz Darci Soares ao lado do pai Manoel Soares, que tem 90 anos e usa cadeira de rodas. Veja vídeo utilizando a tecnologia de Realidade Aumentada
"Eu precisava mais dele do que ele de mim", diz Darci Soares ao lado do pai Manoel Soares, que tem 90 anos e usa cadeira de rodas. Veja vídeo utilizando a tecnologia de Realidade Aumentada | Foto: Saulo Ohara



Diz o senso comum que há um momento na vida em que os pais se tornam filhos e então chega a nossa hora de cuidar deles. Nem todos estão preparados ou prontos para esse momento, mas há outros que aceitam com prazer essa situação.

Aos 90 anos, com a mente lúcida, Manoel Caetano Soares tem os movimentos limitados devido a um desgaste no quadril. Há cerca de quatro anos ele precisa de uma cadeira de rodas para se locomover e também de auxílio para atividades básicas do dia a dia. E é sua filha Darci Caetano Soares quem lhe faz companhia e o auxilia, desde que ele ficou viúvo pela segunda vez. Para isso ela largou emprego e marido em São Paulo e se mudou para Cambé com o filho. A quem interpreta seu gesto como algo divino, ela conta que é muito mais ajudada pelo pai do que o contrário.



"Ele já me ajudou muito e continua ajudando. Lembro de quando eu precisava de um documento com urgência e ele foi até Paranavaí para consegui-lo para mim. Em uma semana eu estava com o papel. Ele me carregava longe para levar ao médico. Lembro dele ir trabalhar doente porque precisava colocar comida em nossa mesa. Por isso, quando soube que ele estava precisando de mim, não tive dúvidas em vir. Muitas pessoas me desencorajaram, disseram que eu não precisava largar tudo, que podia mandar o dinheiro para que alguém cuidasse dele. Eu sou técnica em vestuário e tive propostas para trabalhar em ateliês, ficar por lá. Mas qualquer dinheiro ia ser pequeno para as necessidades dele", afirma.

Darci tem nove irmãos e foi cogitado que o pai passasse um período com cada um, mas no final ela avaliou que era melhor se dedicar em tempo integral a ele, com a ajuda dos irmãos. "Minha irmã vem, leva ele ao médico, liga para saber como ele está, me ajuda a dar banho, faz companhia a ele. Para mim, é muito bom poder tê-lo aqui comigo. Perdi minha mãe aos 14 anos, então acho que se ele precisava de mim, eu tinha que vir. Depois ele vai embora e eu não aproveitei."

Para seu Manoel, contar com os cuidados e a atenção da filha é um verdadeiro privilégio. "Glorifico a Deus por isso. Às vezes a gente reclama, mas Ele faz tudo o que a gente precisa, faz de acordo com o valor da gente", filosofa.

Pai e filha passam o tempo juntos conversando ou lendo e comentando passagens bíblicas. "Estou aproveitando cada minuto ao lado dele. Pai é um só, mas nos damos conta disso somente depois que ele vai embora. Quando eu vim para cá, percebi que eu estava carente dele. Perdi minha mãe há 38 anos, eu precisava mais dele do que ele de mim. Ele é meu confidente, com ele eu tenho liberdade de chorar. Agradeço a Deus por estar com ele, por poder aproveitar os conselhos dele", reitera.