O que de fato vem a ser a magia que recai sobre grande parte da humanidade nesta época do ano? Músicas, mensagens e apresentações que evocam fraternidade e paz se multiplicam. Um bom sentimento parece envolver a vida de gente de todas as idades, religiões e até de quem não crê. Corações aquecidos fomentam a solidariedade. Famílias e amigos têm um desejo acima da média de se encontrar, confraternizar, de passear juntos e trocar presentes. O que vem a ser tudo isso?

O tempo do Natal, ao mesmo tempo tão bonito e de contagiante alegria, é também, infelizmente, superficial e de aparências. É uma realidade dura e triste para se admitir, mas verdadeira. Se não fosse assim, tudo não seria tão passageiro. A troca de gentilezas e de expressões fraternas, por vezes mais formais do que cordiais, são tão transitórias quanto a fictícia figura do Papai Noel. Mal chegam ao Réveillon. Sem demora, prevalece a política do "salve-se quem puder" e do "cada um para si e Deus para todos".

Bom seria se o Natal não fosse mais do que a lembrança e a comemoração de um estupendo evento na história da humanidade: o nascimento de Jesus, verdadeiramente humano porque nasceu de Maria, verdadeiramente divino porque foi concebido pelo poder do Altíssimo. Bom seria se ao menos os cristãos tivessem compreendido e absorvido sua mensagem de amor e paz, a ponto do espírito natalino não ser sazonal, mas perenal, pontuado no calendário uma vez ao ano, mas uma rotina nas relações humanas.

As formalidades típicas deste tempo são tradições que, embora quebram o cotidiano da vida e trazem passageira alegria, são incapazes de tocar a fundo os corações e de proporcionar transformações duradouras. O sentimento bom e contagiante que o Natal desperta, aproximando pessoas, movendo corações ao amor fraterno e ao socorro dos necessitados, é algo grandioso e nobre, à altura do que se comemora. Porém, fazer o bem é uma ação que precisa deixar de ser meramente sentimental, formal, ocasional, filantrópica e voluntária, para se tornar de fato uma missão perene, um sacerdócio exercido no altar da humanidade.

Jesus não deu lições de boas ações a serem desenvolvidas esporadicamente conforme as conveniências, mas instituiu um modo de vida impulsionado pelo amor: "Por toda a parte Ele andou fazendo o bem e curou a todos" (At 10,38), independente de sexo, raça, cor, religião ou classe social. Essa é a única lógica capaz de ajudar o coração humano a superar seus interesses egoístas e de criar uma nova humanidade.

É preciso incorporar os valores e os sentimentos do aniversariante. A comemoração natalina é uma farsa onde o perdão não acontece e o preconceito prevalece; onde ceias extravagantes escondem insensibilidade com quem nada tem; onde mãos cheias de presentes estão vazias de calor humano; onde em nome da religião se promove discriminação e agressão; onde a paz e a alegria só existem para alguns; onde a fé é inerte; onde políticas injustas e corrupção não causam indignação. Natal é fazer valer hoje e sempre os motivos que trouxeram Jesus ao mundo. Fora disto é um faz de conta. Feliz Natal a todos!

Padre Romão Antonio Martini Martins
Pároco da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora em Londrina