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Desprograme-se!
Quando minha filha Clara nasceu, em 2009, meu ex-chefe e alguns colegas acharam estranho eu pedir demissão "com data agendada" da emissora de TV onde trabalhava. No meio do ano, avisei que sairia em 3 de novembro (data em que havia entrado na rede, seis anos antes) e que deixaria minha função de editor de telejornal para ser professor universitário em 20 horas semanais, ganhando pouco mais da metade do salário que tinha até então.

Esta pequena lembrança serve para deixar claro que a minha opção por ser pai estava sendo levada a sério, mesmo sabendo que seria uma viagem sem qualquer GPS pra mostrar todos os sinais, encruzilhadas, alertas e desvios, mas já com pequenas dicas (de orientações pediátricas até bedelhos maravilhosos de avós) sobre as melhores paragens de diversão e tensão, lugares e situações que você pouco imagina. Um pequeno exemplo disso é que hoje sou efetivamente o cozinheiro da família. Nada de ir ao fogão apenas nos fins de semana e dizer que é participativo! Por concentrar minhas aulas à noite, fico a maioria das manhãs com as crianças e faço o almoço para a família todos os dias.

Agora com o Gil (de 2 anos) junto ao nosso bando, contesto mais uma vez o erro óbvio que muitos pais (e mães) insistem em perpetuar: filhos não cabem em caixas pré-montadas e nem em faixa horária pré-determinada. As variações do tempo-espaço são explícitas na vida de alguém com a chegada de uma criança e é preciso se abrir às mudanças de agendas e calendários.

Por isso, a dica principal (nada pedagógica) é: desprograme-se e deixe apenas as referências orientarem a vida pós-paternidade. Esteja aberto aos problemas e às alegrias. Um exemplo básico são viagens. Eu e a Rakelly sempre gostamos de pegar a estrada sem muita organização, mas agora fazemos disso um exercício de controle (de tempo e recursos) com a possibilidade de organizar pequenos-grandes passeios sempre disponíveis. Nada de esperar o ano todo para ficar 30 dias num lugar só.

Em tempos atuais, quando jornadas de 12, 14 horas diárias são elogiadas com o singelo nome de empreendedorismo, ser pai pode significar redefinir sua vida para melhor e pensar naquilo que é essencial. Por isso, duas sugestões fáceis de se executar. Primeiro, incentive seus filhos a se tornarem amigos da cidade onde mora (para além dos passeios em shoppings e ao redor de um lago). Segundo, incentive seus filhos a se tornarem amigos dos seus amigos. Temos muitos camaradas (que, aliás, optaram por não serem pais) que adoram eles por perto em visitas, ensaios e festas. Desprograme-se!

Emerson Dias, pai de Clara (8) e Gil (2), marido de Rakelly Calliari e também jornalista e professor universitário