"Aquela imagem da mãe abnegada e sempre bem-humorada tem que cair por terra", diz a artesã Adriana Mattoso Rodrigues, mãe de Antônio, de 2,7 anos
"Aquela imagem da mãe abnegada e sempre bem-humorada tem que cair por terra", diz a artesã Adriana Mattoso Rodrigues, mãe de Antônio, de 2,7 anos | Foto: Ricardo Chicarelli



Diz o ditado que ser mãe é padecer no paraíso. Baseado nele, a sociedade cria uma imagem que sobrecarrega as mulheres e acaba por fazê-las se calarem, mesmo que algumas vezes falte força para tantas atividades.

"Antônio é a melhor surpresa da minha vida, um garoto muito especial, alegre, cheio de energia, sinto que ele é muito feliz. Não sei se mudaria alguma coisa na nossa história, desejaria apenas que a sociedade fosse mais compreensiva e apoiasse mais as mães. A sociedade estabeleceu um perfil para todas as mulheres, mas elas não são iguais, é preciso repensar isso", diz a artesã Adriana Mattoso Rodrigues, mãe de Antônio, 2,7 anos e uma das mães retratadas no videodocumentário.

Ela descobriu a gravidez do menino no momento em que o marido havia sido aprovado em um concurso na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e o casal estava se mudando de Brasília para Londrina. "Para mim a gravidez era uma possibilidade, não um objetivo de vida. O Antônio foi bem quisto, mas eu não sabia como seria ser mãe. No início eu era tão inexperiente quanto ele. Ninguém está tão preparada para ser mãe, mesmo que a gente brinque de boneca, é muito diferente", afirma.

Estar longe da família e sem uma rede de apoio foi uma das maiores dificuldades, mesmo dividindo os cuidados com o filho e a casa com o marido. Atividades simples, como sair de casa para passear com o menino no carrinho, não eram fáceis, simplesmente porque a porta do prédio era muito estreita. "A gente ignora muitas coisas na vida das mães. No começo não era fácil, ele exigia muito de mim. Sabe aquela coisa de mal ter tempo para escovar os dentes e passar o dia de pijamas porque não dá tempo de fazer mais nada? Eu conversava com as minhas amigas e era assim para todo mundo. O bebê passa cerca de meia hora mamando e mama a cada duas horas, a gente aproveita o intervalo para fazer o que dá."

Adriana decidiu não voltar a trabalhar em sua profissão original - professora de Letras, e investiu no ramo do artesanato, trabalhando com encadernação, para poder ter tempo disponível para a família e principalmente para poder ter um tempo de qualidade com Antônio.

"Se os nossos familiares estivessem perto seria um pouco mais fácil. Uma escola pública em tempo integral também tornaria as coisas mais fáceis, o valor cobrado é inviável para nós. A chegada do Antônio foi um amadurecimento forçado, você melhora como pessoa. Ele veio para mudar alguns dos meus objetivos. Mas as exigências são muito grandes para com as mães. Você tem que amamentar, tem que dar orgânico, não pode dar doce. Eu faço o que posso no tempo que eu tenho. Meu filho tem que saber que eu sou uma pessoa. Aquela imagem da mãe abnegada e sempre bem-humorada tem que cair por terra."(E.G)