Formado em Direito e Ciências Sociais, Gabriel da Silva, 28, atua como voluntário na Itália, recebendo crianças e adolescentes refugiados. Veja vídeo utilizando a tecnologia da Realidade Aumentada
Formado em Direito e Ciências Sociais, Gabriel da Silva, 28, atua como voluntário na Itália, recebendo crianças e adolescentes refugiados. Veja vídeo utilizando a tecnologia da Realidade Aumentada | Foto: Saulo Ohara



O dicionário define "voluntário" como: 1. que não é forçado, que só depende da vontade; espontâneo. 2. que se pode optar por fazer ou não. Na prática, porém, ser voluntário é muito mais do que isso. Ser voluntário é abdicar de parte do seu tempo – seja para o lazer ou para a família -, se doar em prol do outro e no fim mais receber do que dar.

Em uma idade em que muitos jovens estão preocupados com a futura carreira, em crescer no trabalho ou apenas aproveitar a juventude, muitos outros fazem questão de reservar um pouco do seu tempo para ajudar.

Formado em Direito e Ciências Sociais, Gabriel Bernardo da Silva, 28, há três anos deixou o Brasil para ser voluntário em outros países. Ele conta que devido a sua formação sempre foi instigado a fazer trabalhos voluntários. "Por minha formação no Colégio Marista e depois na PUC (Pontifícia Universidade Católica) eu já participava de semanas de voluntariado, sempre me fez muito bem. Mas eu voltava para casa e me sentia incompleto. Quando terminei minha graduação recebi o convite para participar de um trabalho voluntário no Sri Lanka e depois Tailândia", conta.



De lá Silva foi convidado a estagiar nas Nações Unidas e foi para a Suíça. Atualmente ele mora na Sicília, na Itália, onde atua como voluntário recebendo crianças e adolescentes refugiados não acompanhados, ou seja, aqueles que se separaram dos pais durante a travessia, ou que ainda foram enviados sozinhos para a Europa. Depois de recebidos, eles são encaminhados para centros onde recebem roupas, alimentação, cuidados médicos e posteriormente documentos e encaminhamento para escolas ou cursos profissionalizantes. Muitos sofrem todo tipo de violência durante o trajeto e ainda sofrem o choque de chegarem sozinhos em uma cultura estranha. O trabalho faz parte de um programa denominado "La Valla 200", do Instituto Marista.

"Neste ano completamos 200 anos desde que Marcelino Champagnat deu início a sua obra, em La Valla, por isso o nome do programa. E o objetivo é descobrir novas formas de trabalho, por isso fui para a Itália, para atuar em todo tipo de serviço e descobrir o que é mais necessário. Me dispus a ficar três anos e neste primeiro ano trabalhei junto à Cruz Vermelha nos desembarques, dando aulas de italiano e inglês, além de trabalhar com a valorização da cultura deles e também na questão dos direitos legais, já que muita coisa ainda é nova e não prevista nas leis", explica.

Segundo ele, foi a vontade de fazer a diferença e transformar o mundo – mesmo que seja o mundo de apenas uma criança, que o motivaram a deixar tudo no Brasil para ser voluntário. "Quando eu era criança e morava próximo ao aeroporto de Guarulhos, via os aviões e ficava imaginando quem eram as pessoas que estavam neles. Eu queria conhecer outras culturas mas não viajando simplesmente e sim convivendo com os locais. Ajudar as pessoas é uma oportunidade."

Silva aponta que o único ponto negativo de estar tão longe de casa é justamente a distância, o que impossibilita que ele esteja presente em comemorações e datas festivas, já que vem apenas uma vez por ano ao Brasil.

"As pessoas podem se perguntar por quê, com tantas pessoas precisando aqui, fui me dedicar a trabalhar na Itália. Eu digo que o meu chamado foi esse. Mas e você que está aqui, ajuda quem? Muitas vezes o necessitado está ao nosso lado", finaliza.

Aos 24 anos, a arquiteta Catharina Cavasin é coordenadora dos voluntários do Lar Anália Franco: "Nosso compromisso é grande"
Aos 24 anos, a arquiteta Catharina Cavasin é coordenadora dos voluntários do Lar Anália Franco: "Nosso compromisso é grande" | Foto: Gina Mardones



Fazendo um domingo diferente
Aos 24 anos, a arquiteta Catharina Cavasin é voluntária no Lar Anália Franco, em Londrina, desde os 18. Ela conta que morou perto da instituição e também teve parentes que trabalharam lá, por isso conhecia as dificuldades e necessidades dos internos. Porém, como a instituição só aceita voluntários maiores de 18 anos, foi necessário esperar. Hoje ela é a coordenadora dos voluntários do Lar e também cuida da página da instituição nas redes sociais.

"Aos 19 anos e já na universidade, criei uma página nas redes sociais e comecei a fazer reuniões. A primeira deu 50 pessoas, na semana seguinte já apareceu menos, mas depois de um tempo conseguimos formar um grupo com uns 25 voluntários. Nós trabalhamos no bazar e com as crianças e adolescentes, além de fazermos promoções para angariar recursos", descreve.

Cavasin conta que aos domingos os internos podem receber a visita dos familiares e sair para passear com os padrinhos, porém, nem todos têm quem os visite, por isso a presença dos voluntários é fundamental. "Nós viemos e fazemos atividades recreativas com as crianças. Com as adolescentes, conversamos, falamos sobre mercado de trabalho, educação sexual, profissões. Somos alguém em quem elas podem confiar e com quem podem conversar. Isso é muito importante porque aos 18 anos eles saem do Lar e precisam estar preparados para isso. Acredito que sem o trabalho dos voluntários o domingo deles seria pior", afirma.

Como arquiteta, Cavasin se uniu aos colegas de universidade quando ainda era estudante e através de um projeto de extensão e doações da comunidade conseguiu revitalizar a área de lazer das crianças, que conta agora com parquinho e quadra de vôlei de areia, onde são realizadas várias das atividades do domingo.

"Ser voluntário é algo bem sério, as crianças e adolescentes criam vínculo conosco e sentem falta, por isso nosso compromisso é grande. Todos os voluntários assinam um termo de compromisso se comprometendo a vir pelo menos duas vezes no mês. Nós não conhecemos o histórico das crianças, mas sabemos que não é fácil. Compreendemos que o domingo é um dia de ficar com a família, de descansar, mas saber que nesse dia que você podia não fazer nada, você fez a diferença na vida de uma criança, é muito gratificante. A semana começa de outra forma, a gente fica mais bem-humorada. Quando não posso vir fico pensando no que eles estão fazendo."

Para quem quiser ser um voluntário, ela diz que existem diversas funções e que a entidade está sempre aberta a novos colaboradores. Interessados podem entrar em contato pelo e-mail [email protected] (E.G)

'Você vai ajudar o outro e ele te ajuda'
O acadêmico de engenharia mecânica Guilherme Vicente, 18, participa da Pastoral Juvenil Marista (PJM) e através dela atua em algumas ações de voluntariado. Além de entrega de brinquedos, roupas e mantimentos em creches e outras instituições, os voluntários também participam de duas ações maiores anualmente. Ele conta que começou a participar do grupo aos 15 anos, a convite de amigos e gostou de encontrar pessoas que também buscavam algo a mais.

"Me encantei com as ações realizadas pela PJM. Uma delas é realizada no final de semana antes da Páscoa e dura de sexta a domingo. Vamos até uma comunidade na região de Londrina e levamos cestas básicas. Programamos atividade de lazer para crianças e idosos, visitamos as casas. Percebo que tem muitas pessoas com carência de serem ouvidas, de terem atenção", diz.

A outra ação dura uma semana e é realizada em janeiro, a Missão Solidária Marista, que envolve os alunos mais velhos – a partir do 3º ano do ensino médio e universitários. O local de visita pode ser tanto no Paraná quanto em outros Estados e a imersão na comunidade é maior.

"Esse ano atuamos na região do Centro Educacional Marista Irmão Acácio, na Zona Norte de Londrina. Também fizemos visitas e promovemos atividades com os moradores, mas nesse encontro fazemos ações mais concretas, neste caso, pintamos o muro do Centro Social e com a ajuda de profissionais reformamos o parquinho. Ao contrário da outra ação, em que ficamos alojados em escolas, na Missão Solidária nos hospedamos na casa das famílias que podem receber os jovens. Um dos objetivos é conhecer outras realidades e acabamos criando uma relação de família", conta ele, que já foi visitar duas vezes sua "mãe" de missão.

Vicente diz que o trabalho voluntário permite que ele veja outras realidades e sinta que ainda há muito a ser realizado. "Ficamos muito tempo ocupados com nossa própria rotina, o voluntariado é uma experiência muito válida. Você vai ajudar o próximo e ele te ajuda. O legal é que nos encontros vão pessoas de todas as religiões, cada um dentro da sua crença, mas com o objetivo final da caridade. Com certeza os amigos da PJM eu vou levar para sempre!" (E.G)