Depois que o ator e apresentador Rodrigo Hilbert demonstrou suas habilidades no programa Tempero de Família, do GNT, o termo "homão da porra" se espalhou pela internet. Isso porque o artista cozinha, lava, passa, constrói casas, faz crochê, tem fama de ser exemplar como pai e marido e ainda sustenta o rótulo de galã. Com o título, críticas de todos os lados colocaram temas importantes em discussão. No mês da Campanha Novembro Azul, desconstruir alguns preconceitos é ainda mais necessário.
"Grande coisa o que ele faz", "É um capacho da mulher", "E os mulherões da porra?". Temas como igualdade de gênero e a divisão de tarefas, exaltação de atividades tidas como comuns, o machismo que permeia vários ambientes e o perfil do novo homem vieram à tona com o conceito.
Para quem não conhece, "‘homão da porra’ é um homem que compartilha a vida familiar e conjugal numa relação de igualdade com a esposa, ao contrário do passado, quando os papeis eram absolutamente diferenciados, o mundo dividido em azul e cor de rosa. Hoje todas as barreiras estão caindo", explica Naim Akel Filho, psicólogo e coordenador do curso de graduação em Psicologia e especialização em Neurociência da PUCPR.
No entanto, o próprio Rodrigo Hilbert rebateu o assunto em entrevista ao canal, afirmando que "receber elogios pelo fato de você cuidar do teu filho, da tua casa, dividir tarefas com a sua esposa… Eu não aceito esse rótulo de "homão da porra" pelo simples fato de fazer isso".
Além do debate sobre o termo ser ou não adequado, coloca-se também em discussão que o perfil desse novo homem esteja desconstruindo padrões machistas. "Esse homem não está preocupado se o que ele faz é feminino ou masculino, ele tem o que fazer na casa e não tem porque ele não fazer. Isso não existe mais. Era justificado antes, hoje não se justifica mais", afirma Akel Filho.
Essas barreiras estão caindo em vários ambientes. É comum encontrar homens que vão a clínicas de estética, que se preocupam com a saúde (e fazem o exame preventivo), que cozinham e lavam a louça ou que também não sabem fazer as tarefas tidas como masculinas (como cuidar do carro ou pequenos reparos) e nem por isso se sentem diminuídos.
É verdade que o termo esbarra também na figura da mulher, que desde muito tempo trabalha, cuida da casa, dos filhos, da saúde e estética e nem sempre é reconhecida com tanta intensidade. Sobre esse aspecto, o psicólogo tem uma visão otimista. "Os homens estão compartilhando papéis e as diferenças diminuem. Aquilo que nos colocava em posição hierárquica diferenciada está diminuindo e o mundo está ficando igual. Parece uma evolução natural da espécie, é a diminuição das diferenças", defende.
A discussão da equidade de gêneros vai muito além das divisões de tarefas na casa, o psicólogo considera que estamos em um momento de transformação e este comportamento reflete no novo perfil masculino. No entanto, a mudança não ocorre integralmente, por isso muitos homens ainda não concordam com o novo comportamento. "Ele lida muito mau com essa cobrança, porque as coisas estão indo em uma velocidade absurda, não está tendo tempo de se adaptar. O cérebro jovem já é treinado para se adaptar mais rápido, ele entende isso muito mais rápido", argumenta.
Toda essa transformação recai também sobre a mulher. "O desafio da mulher é assumir posições de comando e liderança e a função do homem é ceder espaços, ceder posições." Com isso, o psicólogo vê um mundo melhor no futuro. "Vai vir uma sociedade mais justa, mais equilibrada, menos violenta. Não é o que estamos vivendo agora, porque estamos vivendo o momento de transformação, mas estamos caminhando para um mundo melhor", finaliza.